Como já caiu na boca do povo, calcanhar-de-Aquiles significa o ponto fraco de alguém ou sua vulnerabilidade, e vem da mitologia grega, na Guerra de Tróia, com o gigante Aquiles recebendo uma flechada no calcanhar, único local em que poderia ser atingido e morto. É o que está se dando com o Boi da Maioba, o Gigante falado, na mídia, que, com pandeiros de náilon, às dezenas, não venceu ao do Sítio do Apicum, com muito menos, no Lava-Bois, em São José de Ribamar, domingo.Eu estava lá, quando um passou pelo outro (Maioba descendo, Boi do Sítio subindo, com Canário cantando), às 14h30min, separados pelo canteiro (trevo) da Rua Grande, e, matraqueiro dos bons, acompanhei amigos ribamarenses de longas datas, e mais novos, qual André e Bruno Almeida, respectivamente, filhos do Cel. PM Osmarino Almeida (Bizabá) e Antônio Almeida (Mandrake), artista plástico e de saudosa memória, no segundo, por pertencer à cidade-balneário, e eu visava, novamente, com o carimbo da consideração, o meu Honroso Título de Cidadão Ribamarense, obsequiado em 2016, pela Câmara, pelo que fiz, em décadas, ao município, em Educação e Cultura, com o meu Jornalismo cioso e cônscio.


Comecei a perceber esse calcanhar-de-Aquiles do Boi da Maioba, há coisa de 15 anos, quando entrosado com os grandes dele (desde o tempo da ABMI (Associação dos Bumba-Bois de Matraca na Ilha, que aglutinou depois todos os sotaques, na direção do Parque do Folclore da Vila), esperando o Boi da Madre de Deus, que se apresentaria depois, no Arraial da Prefeitura, na Praça Maria Aragão, observando só pandeiros de fibra sintética, senti a falta da fogueira e perguntei para os meus chapas os irmãos Luís Parapapá e Papeira (já saudoso), que quis me desdobrar, com “O carro de fogo (para aquecer os pandeiros de couro) está chegando!”
A fogueira de São João: Promessa de Isabel à Mãe de Jesus – A fogueira queimou nas montanhas da Judeia para anunciar o nascimento de João Batista, pois Isabel, sua mãe, fizera um acordo com a prima, Maria, que também estava grávida e seis meses depois daria à luz Jesus. Esta pediu que fosse acesa uma fogueira para avisar sobre o nascimento do sobrinho, que batizaria o Nazareno no Rio Jordão. Virou tradição no Mundo: As fogueiras ardem no Dia 24 de junho.Entre nós, desde a véspera. O Boi da Maioba mandou para o espaço a magia de São João! Teria perda em contrapartida!
A roseira da Maioba já está sentindo — Foi assim que a rapaziada maiobeira aderiu ao náilon mais apropriado para bateria de escola de samba. Qualquer um boi de matraca, num confronto com o da Maioba, se com número razoável de instrumentos cobertos com couro animal (cabra ou bode), que são entesados na fogueira, arrasa com a percussão do forte conjunto. João Chiador, antes de sair para o Boi de Ribamar, no começo da década de 1990, cantou essa que é uma das lembranças da Maioba: “Molha essa roseira, não deixa murchar,/que tem muitas flores pra te perfumar!”
Apanhou uma surra sonora do Boi de Maracanã — Chagas ainda cantava no Boi da Maioba e o fato se deu na Rua Grande (local do Lava-Bois mesmo!), na manhã do primeiro domingo de julho. Humberto (Barbosa Mendes), o Guriatã, uns quatro anos antes da sua morte, subia com o Batalhão de Maracanã, na outra pista, com pandeiros enrijecidos nos carros de fogo, e seria apanhado de surpresa, com o Boi da Maioba (descendo e às caladas), se não fosse avisado por mim, assistindo ao feito do Comercial de D. Iracy Pavão, hoje Builão. Ele apitou pra guarnecer, e, incontinenti, eu vi as vibrações sonoras de uns 30 pandeiros de couro calando, literalmente, mais de 100 pandeiros de náilon, e publiquei tudo neste jornal, sem demora. Para reforçar o arrazoado, entrevistei o Maestro Nonato (do Nonato e Seu Conjunto), que clareou ser o couro animal (se espalhando mais em sua sonorização na batida) de som mais grave, e o de náilon, mais agudo, fica mais concentrado.
O Astronauta da Maioba —No outro ano, Chagas tiraria toada de pique, dizendo que Humberto era feiticeiro, e já no Boi de Ribamar não cantou, numa chamada minha, em 2016, na frente da casa onde eu me encontrava hospedado, na Rua da Liberdade, comemorando meu aniversário, em 7 de agosto, alegando estar adoentado; ficou o cordão sob a cantoria de Ronny e a pedido do então presidente do Boi do Outeiro (Matraca de Ribamar), Ribinha Jacaré, de quem sou padrinho de casamento; e o dito cujo, em outra chamada, não demorou para voltar ao normal. Se Chagas tivesse mais serviços prestados à Cultura Maranhense, ele quereria ser mais do que a folhinha marca, sem seguir o bom exemplo de Chiador, seu predecessor, na Maioba (onde passou 32 anos) e em Ribamar (desde 1994, falecido, aos 78 anos, em 6.8.2017), humilde, brincalhão e muito maior e brilhante; eu sei compor toadas, e de pique, especialmente: O Astronauta da Maioba, cantada por Ronaldinho, no Boi da Madre de Deus, contra Chagas,dissecando-o, ele rechonchudo, se fosse da minha lavra eu o deixaria flutuando para sempre no espaço sideral!
O respeito recíproco da Madre de Deus e da Maioba —O legendário Luís Danavó, cantador da Maioba, tinha grande apreço por Marciano, da Madre de Deus, e vice-versa, visitando o bairro, fato observado por mim em criança. Já matraqueiro, acompanhando o meu Boi, no começo dos anos de 1970, admirava os dois batalhões pesados se confrontando, com toadas, pandeiros e matracas, no amanhecer de São Pedro, na frente da Padaria São Domingos, quase na entrada da Liberdade (perto da Baixinha): Maioba, com João Chiador, da parte da via-férrea,adjacência do Alto do Bode; Madre de Deus, com Mané Onça e Vavá, na vanguarda do Guerreiro,entre a Rua Paulino Souza e o Canto do Valois (Monte Castelo), e não havia carro de som. Era uma hora de disputa hercúlea, sem o ganhador. No Concurso de Toadas da Voz Diacuí, com apoio do vereador e babalaorixá José Cupertino, no João Paulo, até no fim dos anos de 1960, a conversa era outra: Não ficava ninguém na Madre de Deus, que ganhava no grito, dito pelos contrários.
Características do pandeiro de couro — O parecer do Maestro Nonato, em síntese, é o mesmo que se acha, extenso, nas redes sociais: “O pandeiro de couro é bastante versátil. A pele, por ser de origem animal, tem um grave acentuado. Por isso, o pandeiro de couro tem um som bastante encorpado, sem perder o brilho.O peso do pandeiro de couro é outro fator bastante importante, sendo muito mais leve que o de náilon.Outra questão marcante do pandeiro de couro é a possibilidade de alterar a afinação. Deixando a pele mais frouxa, o som ficará mais grave.
Características do pandeiro de náilon — “O pandeiro de náilon tem um timbre mais agudo, que se destaca melhor em uma formação de banda que possui instrumentos mais graves, como tantã, surdo e repique. O náilon costuma ter mais harmônicos nas frequências altas – na prática, ele “canta” mais os agudos, e seus graves são tímidos.Ele também não tem uma gama tão grande de variação de afinação. Se afrouxar demais a pele, o volume sonoro tende a ficar muito baixo.”


O calcanhar-de-Aquiles na mitologia grega — O gigante Aquiles era filho do Rei Peleu (rei dos mirmidões) e de Tétis, deusa grega do Mar. Tétis tencionava garantir a imortalidade do seu filho ao mergulhá-lo noRio Estige. Tornou-se invulnerável, exceto onde não foi molhado: O calcanhar.Era imbatível na Guerra de Tróia, até ele haver matadoo herói Heitor (que o combateu no lugar de Páris, seu irmão mais novo) e arrastar o seu corpo por Tróia. Páris trespassou uma flecha envenenada pelo calcanhar direito e o matou. Páris, príncipe troiano, havia raptado Helena, a bela esposa de Menelau, rei dos espartanos, ocasionando a Guerra de Tróia, que durava 10 anos, quando Ulisses construiu O Cavalo de Troia, que ficou conhecido por Presente de Grego, pois cheio de soldados inimigos, na praia, recebido pelos incautos desafetos, que o conduziram para dentro da cidadela, e aquelesde noite abriram os portõesdela, até então inexpugnável, para milhares de ferozes combatentes derrotarem os defensores e destruírem Tróia.Páris escapou com Helena.
Boi de Maracanã prevenido — Na manhã de domingo retrasado (o primeiro de julho, como sempre aconteceu o Lava-Bois, desde 1988, quando os bois de matraca saiam do Arraial de Silvestre Botão, então vereador e marchante, que pagava os cachês das brincadeiras do próprio bolso, na Rua da Liberdade, e iam porfiar na Rua Grande), o Boi de Maracanã, liderado pelo cantador Ribinha (filho de Humberto, finado a 19.1.2015, aos 75 anos), subia a Rua Grande, no meio da manhã, com pandeiros de náilon, e, para qualquer eventualidade, com os de couro sendo retesados nos carros de fogo. Não surgiu nenhum desafiador, pois adiaram o Lava-Bois para domingo passado.“Prevenido é brincador”! — filosofou, na sede do Boi da Madre de Deus, o popular Calça Curta, um dos mais versáteis miolos (quem brinca sob a armação) do boi, visto por mim, depois que eu contei o episódio de como Humberto Guriatã, com 30 pandeiros de couro,calou uns 100 pandeiros de náilon da Maioba!


Rapaziada do jornalismo novato, o Lava-Bois se dá onde começou, em 1988: Na Rua Grande, não na orla, e não há como ter 70 anos; e nunca existiu cidade balneária; o certo é cidade-balneário, palavra composta, por ser balneário lugar onde se toma banho; e alusivo à Praia de Banho.
Texto: Herbert de Jesus Santos