Em obras literárias e textos jornalísticos antigos, lemos que a Igreja de N.ª S.ª da Conceição dos Mulatos foi erigida no séc. 19, por irmandade homônima, na que seria Rua Grande. Soubemos pelos mais velhos que não tinha dimensão grandiosa, mas, por sua devoção, sua procissão no seu dia consagrado (8 de dezembro) era acompanhada por uma multidão e missas sempre repletas. Até 1743, a imagem da santa ficava num altar lateral na Igreja de N.ª S.ª do Rosário dos Pretos, na Rua do Egito, quando, em 1772, a Irmandade de N.ª S.ª da Conceição dos Mulatos angariou recursos e construiu seu primeiro templo. Ficou com os dias contados na gestão do prefeito (médico) Pedro Neiva de Santana, em 1939, na interventoria federal de Paulo Ramos, no Estado-Novo do ditador Getúlio Vargas, quando casarões sofreram demolição para dilatar mais ruas e avenidas de São Luís. Serviu para apressar sua destruição o fato de que havia uma linha de bonde elétrico com a trilha passando ao lado de uma das paredes, ocorrendo acidentes com os passageiros, que, não acostumados com o meio de transporte, colocavam sua cabeça para fora. Seus painéis de azulejos, imagens e altares foram transferidos para a Igreja de Santana, e, em 1956, foi construída, na Av. Getúlio Vargas, a do Monte Castelo, de nave única e arquitetura simples.
Praça Padre Chaves — Um pequeno largo, onde se ergue a nova matriz de N.ª S.ª da Conceição dos Mulatos, tomou tal designação em virtude da Lei Municipal de n.º 863, de 12.9.1957, mesmo a custo de derrubada de sumaúmas de porte gigantesco (chamadas popularmente de barrigudas). Sobre o homenageado, elogios de um reverendo exemplar, desde a igreja da Rua Grande, conforme dá conta o mestre Domingos Vieira Filho, no seu livro Breve História das Ruas e Praças de São Luís, e pesquisado pelo professor, poliglota e guia de Turismo Simão Cirineu Ramos: “Nascido no Maranhão, faleceu em São Luís, em 21.2.1941, já Monsenhor João dos Santos Chaves, muito querido pela população, desde seu sacerdócio, na igreja da Rua Grande, por décadas. Honrou a batina como poucos e trazia sempre um sorriso nos lábios, no trato com o povo!”


A tragédia do Edifício Caiçara — No lugar da Igreja da Conceição dos Mulatos, na Rua Grande, foi levantado o Edifício Caiçara, como relata Valdenira Barros, em seu título Imagens do Moderno em São Luís: “(…)Tipo de habitação que prioriza a verticalidade, não havendo a aceitação imediata desse novo hábito, com moradores insistindo em mudar de apartamentos; e a rejeição social veio mais após a morte de dois jovens que recorreram ao suicídio. A partir daí, o prédio foi visto qual amaldiçoado, pela ocupação do mesmo espaço em que havia o do culto religioso. Os suicídios não pararam. Deu em O Imparcial, de 28.4.1999: “Além de um homem que se matou com um tiro no ouvido, uma adolescente de 17 anos tirou a própria vida, jogando-se de um dos andares”. O repórter aqui, pesquisador e revisor literário calejado , ficou na dúvida: Se demoliram a primeira Igreja da Conceição dos Mulatos apenas para alargar a Rua Grande, em face do que houve um vazio de 30 anos para a construção do edifício moderno de 10 andares e garagem para 20 carros, ou se houvera um acordo entre a Construtora Caiçara com a arquidiocese, para a sua realização, pois foi encaixado certinho ali.


A Igreja da Conceição no Anil — A Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição do Anil era no começo do séc. 20 pertencente à Paróquia Nossa Senhora da Luz de Paço do Lumiar. Os vigários desta freguesia convidavam os frades capuchinhos do Convento do Carmo para ajudá-los nas desobrigas, no interior da Ilha. Assim, o cônego João dos Santos, pároco de Paço do Lumiar, encontrou em frei Alfredo, frei Querubim, frei Lucas, frei Lourenço de Alcântara e outros generosos cooperadores. Em 23 de julho de 1907, frei Estevão de Sexto benzeu o Cruzeiro em frente à Igreja, que estava sendo construída no Anil, dedicada à Imaculada Conceição. O primeiro capuchinho a residir no Anil foi frei Daniel de Samarate, que chegou no dia 31 de março de 1913. Rezam seus informes: “No decorrer de, aproximadamente, dez décadas, a Paróquia do Anil, iluminada pela ação do Espirito Santo, guiada pelo olhar maternal de Maria Nossa Senhora da Conceição e do Seráfico Pai São Francisco de Assis, permanece pastoreada pelos zelosos e abnegados frades capuchinhos, contando com precioso auxilio de nove congregações religiosas presentes na paróquia”. Eles mantêm a Festa da Conceição, no bairro, com a novena (nove noites de encontros e orações).


A Festa da Rainha no Monte Castelo — Desde que ascendeu a Santuário da Conceição, em 2004, os párocos aumentaram para um mês o tempo do festejo, em Monte Castelo. Críticas àparte dos comunitários, que reclamaram da intervenção em movimentação na Av. Neyton Bello, com proibição de apresentação de grupos de samba, desde ali, a devoção à padroeira é muito grande. Provaram D. Maria de Jesus Pereira, de 72 anos, nascida em Peri-Mirim, e desde 1970, na Vila Palmeira, que pagava, na tarde de 8 de dezembro, a promessa por uma operação a que se submeteu, recentemente, após passar cinco meses sentindo muitas dores, dando graças à santa, “Abaixo de Jesus!”, a recuperação da sua saúde. Moradora da Cidade Olímpica, Cecília Meireles Reis Barbosa fez a mesma coisa por sua filha de dois anos, Celsymara Meireles Reis, que fora operada, há seis meses, do intestino. Taxistas e vendedores de lembranças religiosas bateram numa nota só: “O largo caiu muito, com certas exigências dos padres, que vendem toda a produção de camisetas e outros objetos oferecidos”! Falavam do que viam, realmente: “Separaram a parte da igreja do largo, com populares passando por um espaço, que não está cercado, direto para as missas!”


Diálogo com o diácono — O repórter não contatou com o pároco, para conceder uma entrevista, que alegou muita ocupação, por todo o Dia da Conceição, que culminaria com a missa campal, na Praça Maria Aragão, e a procissão com a volta da imagem ao santuário, de noite. Em vista disso, conversei com o diácono Francisco de Assis Souza Lima, residente na Rua 1.º de Janeiro, 141, no Monte Castelo, que se mostrou contente com o ex-colega da primeira Turma do Curso de Pós-Graduação em Gestão Pública do Governo do Estado, ali na profissão de jornalista, e mais quando lhe falei que iríamos comemorar os 25 anos de egressos, em março de 2020, com uma comissão procurando o apoio da direção da Escola de Governo, para o sucesso geral. Não falei com ele sobre e tampouco ouvi os padres, em sua homilias, tratarem a festa como da Conceição dos Mulatos, com todas as letras da sua origem.
Texto: Herbert de Jesus Santos