Consoante balanço liberado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, no fim do ano passado, dos mais de 4 mil casarões tombados pelo poder federal e estadual, pelo menos 93 do Centro Histórico de São Luís apresentam risco crítico de desabamento e 261 estão em situação de abandono. Já pode contabilizar o muro de contenção que não resistiu às fortes chuvas da noite e madrugada de anteontem, causando-lhe enorme erosão, e desabou na adjacência do Banco do Brasil, Capitania dos Portos e do Palácio dos Leões. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros acionados para o local não registraram feridos, e uma equipe da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) chegou para as medidas de interdição, e da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp), para as providências da sua alçada.




Em 23 de fevereiro, o comandante da corporação, cel. Célio Roberto, declarou, no programa Abrindo o Verbo da Mirante AM, que “Estamos com alerta vermelho para todo o Maranhão” e que em razão das fortes chuvas já foram mapeadas 70 áreas de riscos somente na Grande Ilha, e que em março, com a defesa civil, suas equipes intensificariam vistorias no bairro histórico.


Essa ameaça aos prédios do Centro Histórico tem o acompanhamento diuturno do empresário Antônio Araújo, há 47 anos, proprietário da Loja Lanorte Móveis e Eletrodomésticos, na Rua Afonso Pena, 230, entrevistado na manhã de ontem, pela Reportagem do JP Turismo, com o fito de chamar a atenção das autoridades competentes para o risco que corre o sítio que oportunizou São Luís ter a ascensão de Patrimônio Cultural da Humanidade. Ele vem testemunhando, há muito tempo, a ruína do imóvel de número 261, na Rua Afonso Pena, esquina com a Rua da Saúde, que pertenceu, nos anos 70, ao Sr. Alfredo Penha, que o sublocou a vários inquilinos, funcionando na parte baixa loja de móveis, relojoaria, barbearia e lanchonete, na parte alta colégio de 1.º grau e, posteriormente, um hotel. Acentuou que, nos anos 90, o prédio foi vendido para o espanhol Nicolas, que tentou reformá-lo, não indo além do telhado, não tendo conseguido a aprovação do IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) , e, segundo comentários, foi levado à Polícia Federal. “Com isso, ele voltou para a Espanha, a cerca de 10 anos, e o imóvel ficou em abandono total, e podendo desabar e se transformar numa tragédia anunciada”! — ressaltou o empresário. Motivos de preocupação, igualmente, não lhe faltam com o prédio de número 235, que fica defronte do seu estabelecimento comercial, com a parte interna e o telhado caídos, colocando em sério risco a vida de transeuntes em sua calçada, onde funcionaram hotel, lanchonete, restaurante e loja de artesanato. Revelou que era de propriedade do deputado Nagib Haickel, que teria sido impedido de restaurá-lo por um série de exigências do IPHAN, e sem sequer conseguir vendê-lo, doou-o para o IFMA (Instituto Federal do Maranhão), para ser casa de apoio aos estudantes chegados do Interior. Antônio Araújo enfatizou: “Já presenciei engenheiro, arquitetos e técnicos, fazendo medição, apontamento, tirando fotos, e o descaso continua, com o prédio, em escombros, pondo em risco a vida de pessoas, principalmente no inverno!”
Construções degradadas – Fica a olhos vistos que o período chuvoso é uma ameaça muito maior a esse conjunto arquitetônico, que foi tombado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), há 26 anos. As edificações ficam mais degradadas, começando pelos telhados.




Ameaça de perder o título – Em julho de 2008, o site 180 Graus noticiou pela primeira vez a ameaça ao título dado à capital maranhense. A matéria cita o então presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, que afirmou, textualmente. “Esse patrimônio é a vida da cidade. É a identidade do Brasil. São Luís é uma das cidades mais importantes que contam a história do nosso País, enfim, um Patrimônio da Humanidade. E eu estou aqui para fortalecer essa ação de fiscalização do acervo arquitetônico. Isso é muito importante. São Luís, inclusive, corre o risco de perder o título da Unesco, caso continue esse processo de descaracterização do Centro Histórico – declarou Fernando de Almeida.
A destruição acelerada dos prédios – Desde 2008, órgãos, como a própria Unesco e o IPHAN, criticam a forma como as sucessivas gestões de São Luís tratam o acervo tombado. A destruição de prédios para estacionamentos, no Centro Histórico, sem vigilância pesada, é também um sério fator de degradação do acervo.


Protesto do ex-governador – A ameaça de 2008 levou, inclusive, a um discurso do então senador Epitácio Cafeteira (PTB), na tribuna do Senado, lamentando o risco de perda do título: “Lamentável e muito grave esse processo de descaracterização do Centro Histórico de São Luís, reconhecidamente o mais homogêneo conjunto arquitetônico de origem portuguesa na América Latina. É um verdadeiro atentado à identidade do povo maranhense, que tem com aquela cidade uma relação de amor e muito orgulho – protestou. Ele começou, na década de 80, o Programa de Revitalização do Centro Histórico que levaria, no 1º governo Roseana Sarney (1994/2002), à concessão do título de Patrimônio Cultural da Humanidade a São Luís, em 4.12.1997.


Nova ameaça: reincidência – Embalada nas redes sociais, em 2011, surgiu uma nova ameaça à condecoração de São Luís. Em 10 de agosto, o site Sua Cidade noticiou: “São Luís pode perder o título de Patrimônio da Humanidade, com prédios abandonados, ruas com o calçamento danificado, com problemas que podem resultar para o Brasil apagar um dos momentos mais importantes da nossa história, a colonização dos portugueses!”— alardeava o site, ao entrevistar um profundo conhecedor do assunto: O urbanista Frederico Burnett.
Sitiada por fezes e, na frente do Liceu, barracas velhas – O prefeito e seus auxiliares, vereança e capachos, não viram ainda que as ruas centrais de São Luís estão recheadas de bostas de desocupados e notívagos: Rua da Palma, Rua do Giz (28 de Julho), Rua Jacinto Maia e até Rua Afonso Penna (onde prédios ruem com chuvas torrenciais) e Largo do Carmo, no cartão-postal da Cidade para os turistas. Neste ínterim, na frente e ao longo de uma das laterais do Liceu, ficou um amontoado de barracas enferrujadas, o que compromete o funcionamento escolar, com a zoada dos pregoeiros. O problema começou, em 2018, quando foram remanejados pela prefeitura, por conta da reforma das praças Deodoro e do Pantheon. Os camelôs, com a promessa de um shopping popular, tomaram conta de várias áreas.


Vivam Imperatriz, Teresina, Belém e Manaus! – Foram prometidos, e saíram da planta os de Imperatriz(MA): Shopping Popular Luís Danda, no Centro; em Belém (PA): Shopping Center Popular João Alfredo; em Manaus (AM), Shopping Popular T4 Phelippe Daou, com capacidade para 700 camelôs; e em Teresina (PI): Shopping da Cidade, desde 2009, com os camelôs remanejados das ruas centrais. Ficou comum exibirem carteira profissional de colaboradores que empregaram. Ali, gestores e vereadores provaram que a sua palavra valia ouro!
E o de São Luís, Patrimônio Cultural da Humanidade? — Cercada nas ruas centrais por amontoado de barracas de trabalhadores que não têm sequer onde fazer necessidade fisiológica, diariamente, lhe foi prometida na gestão municipal passada, envolvendo vereadores, técnicos, e curiosos, que nasceria com o nome de Shopping Popular, em área frontal ao Ginásio Costa Rodrigues, e não passou de reuniões desnecessárias, sem sair do papel. Só e infelizmente!!
Texto: Herbert de Jesus Santos










































































