As palavras acima, do poeta maranhense Manuel Lopes, homem discreto e diáfano, reservado como o próprio título do livro em que reuniu a sua poesia, “O Verbo Contido”, de 2002, aparece ao acaso numa quinta-feira, em uma estante nas dependências do Jornal Pequeno. O poema, longo, intitulado natal, do qual extraímos apenas os primeiros versos, estabelece uma reflexão acerca do nascimento de Cristo. Nada mais oportuno para o momento que ora se avizinha, simbólico. O homem, na sua loucura, esquece a lição do grande mestre, que veio ao mundo, conforme os relatos do apóstolos, e de acordo com a previsão dos profetas, para lavar com a sua paixão os pecados do mundo e para indicar o caminho da luz aos mortais, aos falhos de espírito.
Dois mil anos se passaram desde que o filho da luz veio ao mundo para cumprir a missão que daria aos homens a possibilidade da salvação. Aos homens a necessidade de salvação das suas imperfeições, egoísmo, intolerância, pois está escrito que “o mal não é o que entra pela boca do homem, mas sim o que sai dela”. Também está escrito que “pelos seus atos os conhecereis”, os que são invejosos, gananciosos, ladrões, mentirosos, corruptos, falsos, os famosos “sepulcros”, por fora aparentemente limpos e belos, mas podres por dentro.
Da simples possibilidade de repartir o pão, celebrando o encontro fraterno entre irmãos, constrói-se uma verdadeira armadilha comunista, na qual a televisão é a grande vilã.
Os marqueteiros apropriaram-se até da imagem de Papai Noel para vender seus produtos, e o autêntico espírito natalino se vê substituído por coisas materiais, que ficará mofando quando o corpo, casca temporária, retornar ao pó, como está alinhavado nas próprias escrituras.
Não se trata de simplesmente banir a possibilidade de confraternização ou de evitá-la, mas sim de “arrancar a trave” que cerra os nossos olhos: não se deve deixar de agradecer, evitando a cegueira do consumo pelo consumo, exagero dos exageros, pois naquele momento em que cada um de nós tiver a oportunidade de apreciar a ceia de natal, no mesmo instante existirão milhões de irmãos que estarão passando fome, os excluídos.
Não se deve esquecer de que se existem excluídos é porque alguém os excluiu. A partilha a ser exercitada pode ser simplesmente simbólica, pois até um simples desejo de que não falte alimento para quem precisa é uma forma de partilha, uma forma de oração. Não se esqueça também de pedir para que o coração dos poderosos se descongele ou se despetrifique, para que o sonho da igualdade fraterna entre os homens se realize algum dia. Se poucos possuem muito, muitos possuirão pouco, sempre. Essa desigualdade não é cristã. Mesmo assim, o nome de Cristo é invocado em vão, em nome do lucro, e não em nome do Pai, em nome da usura, e não em nome do Filho, em nome do ego e não em nome do Espírito Santo. Se estas palavras servirem para você, leitor, dispense alguns minutos do seu tempo para passear por esta cidade e ajudar a um mendigo qualquer, a um doente sem parentes, largado em algum hospital ou até mesmo a um amigo em dificuldades financeiras, talvez o verdadeiro espírito de natal brinque no seu coração. Que a luz brilhe para todos sob a proteção da trindade divina. Amém! Feliz Natal a todos!