“No mês de outubro / em Belém do Pará / são dias de alegria e muita fé / começa com intensa romaria matinal / O Círio de Nazaré”, enredo da Estácio de Sá, Carnaval do Rio de Janeiro, 1975.
Simplesmente impossível o visitante não ficar impressionado com a festa do Círio (vela grande de cera) de Nazaré, tida como a maior procissão católica do mundo que, desde 1792 é religiosamente é realizada no segundo domingo de outubro na cidade de Belém, capital do estado do Pará. Calcula-se que cerca de 2,5 milhões de pessoas participem do festejo, acompanhando a procissão que homenageia a imagem de Nossa Senhora de Nazaré e que já está incluída como patrimônio cultural de natureza imaterial do Brasil.
Diz a lenda que o caboclo Plácido José de Souza encontrou a imagem da santa às margens do igarapé Murucutú (local onde hoje se situa a Basílica de Nazaré), em 1700, e a levou para casa. No dia seguinte, a imagem retornou ao igarapé, sendo este considerado o primeiro milagre da imagem. A procissão de velas, que acontece na noite de sábado, refaz o caminho que teria sido percorrido pela santa do local da atual basílica até à igreja da Sé, próximo de onde ficava a cabana do caboclo. No domingo, o caminho se inverte e a procissão percorre 4,5 km de volta à Basílica de Nazaré, percurso que pode ser cumprido em até mais de nove horas em razão da enorme quantidade de fieis que acompanham o cortejo.
Na procissão, chama de imediato a atenção a presença de uma grande quantidade de pessoas carregando ex-votos: são imagens de casas confeccionadas em madeira maciça ou em fibra de buriti, partes do corpo humano em cera, agradecendo graças alcançadas ou em busca de cura para doenças de alguém. Também impressiona a presença da corda, com duas polegadas de espessura e 350 metros de comprimento. Atrelada á berlinda, onde a imagem da santa é protegida sobre um andor, é disputada pelos devotos, que protagonizam cenas cinematográficas. A grande quantidade de pessoas, associada ao calor intenso, provoca desmaios em muitas pessoas, o que aciona um serviço sempre competente de atendimento médico. A população também colabora, e muita gente distribui água mineral de graça para os romeiros.
A festa não vive apenas das procissões. Durante quatro semanas os devotos realizam novenas, acontecem shows, realização de quermesses e a encenação do Auto do Círio, feito por atores, dançarinos, músicos, poetas, numa versão alternativa do Círio, de caráter profano, bem humorado, e que termina em carnaval. É impressionante, também, a movimentação paralela que acontece ao largo do festejo, e a mais significativa delas é a possibilidade de confraternização familiar e entre amigos que a festa proporciona.