Dia chuvoso, “são as águas de março fechando o verão…..”, cantou Antônio Carlos Jobim. Domingo de Ramos ou Domingo da Paixão do Senhor, data que abre a Semana Santa. Ainda no café da manhã recebi a notícia da partida de Cláudio Pinheiro. Cláudio foi meu colega nos dois primeiros períodos na Escola de Agronomia, antiga FESM, hoje UEMA. Ele abandonou a Agronomia para cursar Odontologia. Como também não era sua praia, foi na música que se achou, brilhou e se agigantou. Com uma voz possante cantou, encantou e conquistou diferentes plateias.
Passei muito tempo sem vê-lo. Em novembro passado, encontrei-o na Feira do Livro, promovida pela Secretaria de Cultura do Município. Eu lançava o livro “Das muletas fiz asas”, e ele, homem de cultura, visitava estandes e distribuía sorrisos e simpatia. Cláudio foi uma das pessoas mais leve que conheci. Sempre afável; no encontro falamos de pessoas amigas, do passado, e de um café marcado para o futuro. Trocamos contatos. Como ele adquiriu meu livro, a cada capítulo, uma observação, que ele enviava por mensagem.
Na primeira quinzena de dezembro, Cláudio me ligou, falando do Forte Santo Antônio, na Ponta D’areia, onde era gestor. Olhei com a Setur, onde trabalho, sua demanda, e lhe retornei com a resposta. Lhe enviei algumas crônicas publicadas nas edições do JP Turismo, e ele, sempre gentil e generoso, agradeceu o envio e elogiou os textos.
No final de dezembro fiquei sem notícias de Cláudio. Foi nosso amigo Luiz Fernando Linhares, quem me falou que ele estava internado. Acompanhei o agravamento da doença através de relatos de pessoas próximas. Enviei-lhe mensagem para saber como ele estava; não obtive resposta.
No início da tarde, ainda impactado com a partida de Cláudio, vi nas redes sociais a notícia da partida de Érico Junqueira Aires, professor de Desenho no curso de Agronomia. Érico foi meu vizinho no Cohafuma, de onde me mudei, e ele continuou morando. Nos encontramos também pelas redes sociais. Estreitamos a amizade, e tive o privilégio de privar de sua companhia. Fui visita-lo em sua casa, quando ele me presenteou com uma caricatura. Conversar com Érico, era transcorrer o tempo sem pressa. Mostrou sua biblioteca, e os exemplares do Jornal Pequeno com minhas crônicas, que lia toda semana e arquivava. Fiquei honrado com tamanha atenção. Falamos do projeto dele ilustrar meu livro de crônicas que vou lançar.
Conversar com Érico era um deleite. Cartunista premiado; ouvi-lo falar dos Salões do Humor, que ele participou pelo Brasil, era uma viagem no tempo. Falou da premiação na França, onde conheceu o pessoal do “Charlie Hebdo”, mundialmente famoso após o atentado de 07 de janeiro de 2015, que deixou 12 mortos. Muitas fotografias com a fina flor dos cartunistas nacionais. Sai de sua casa, tarde da noite, com a caricatura minha e alguns livros de sua autoria.
Em janeiro de 2023 reuni em nossa casa, para um café da manhã, alguns dos queridos mestres da Escola de Agronomia. Um memorável reencontro, quarenta e dois anos após deixar os bancos da faculdade. Os professores Antônia Oliveira, José Augusto, Evandro Chagas, José Ribeiro e Érico Junqueira Aires, aceitaram meu convite. Foram momentos especiais, que viraram lembranças. Todos contando casos e causos de tempos idos, entremeados de muitas risadas. Como pupilo, saboreava cada segundo, estava grato e feliz pelo privilégio em reuni-los após tanto tempo.
No início de março enviei uma mensagem para Érico, convidando-o para um novo café. Fiquei de reuni-los novamente para nova rodada de conversa. Não será mais possível. No funeral de Érico, encontrei alguns mestres, todos falando do nosso café, e cobrando o próximo.
Vou reuni-los novamente, pois a brevidade da vida, sem aviso, não nos permite fazer planos de futuro. Nunca saberemos como e quando partiremos. Somos todos passageiros desta naus chamada vida. Não somos, apenas estamos aqui de passagem.
No domingo de Ramos, quando se inicia a Semana Santa, perdi duas pessoas especiais: Cláudio e Érico. Fico triste por não poder privar da companhia deles, de não poder tomarmos um café juntos. Quantas histórias boas se perderam.
Vocês dignificaram suas vidas. Sigam na luz, em paz.
Luiz Thadeu Nunes e Silva – Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br.














































































