

Uma tradição no calendário cultural e turístico do Maranhão, o festejo de Alcântara terá seu início na próxima, quarta-feira (28/05). Imperador e Imperatriz em anos alternados, lideram o ritual, composto por missas, ladainhas, desfiles e procissões, distribuição de esmolas a famílias carentes, visitas do Império aos Mordomos e vice-versa, sempre com o acompanhamento de banda musical e o inebriante toque de música sacra das Caixeiras, com distribuição gratuita de comida e bebida aos participantes. Com isso, o JP Turismo traz para seus leitores uma entrevista concedida ao jornalista Paulo Melo Sousa, com Haroldo Silva Moraes, Imperador da festa em 2025.
JP Turismo (PMS) – Neste ano, o Imperador escolhido é Haroldo Silva Moraes Júnior (que terá como Mordomo do Trono o jovem João Pedro), nascido no povoado Rio Grande, em Alcântara, no dia 12 de dezembro de 1988. Filho de Haroldo Silva Moraes e de Maria Bárbara Borges Ribeiro, desde cedo foi morar na sede do município, começando aí a desenvolver atividades culturais, desde os dez anos de idade, envolvendo-se então com teatro e cultura popular. Haroldo Júnior, fale-nos sobre quando e como começou seu interesse por cultura!
Haroldo Júnior (HJ) – A minha trajetória cultural começou desde cedo, pois eu me lembro que tinha uma coleção de Literatura na minha escola, e tinha um livro chamado “Minhas Memórias”, de Monteiro Lobato, que falava sobre o Sítio do Picapau Amarelo, e eu decorei umas cinco ou seis páginas seguidas desse livro. Aí a professora Neidilene Castro me ouviu interpretando e me disse que me levaria para o Grupo de Teatro e Ação Ambiental Alcantarense – GRUTA, dirigido por Paulo Costa, Paulo Fernando e outros. Comecei a fazer teatro por lá e depois na escola. No ano 2000 estreamos o CULTURARTE, e já são 25 anos de atividades. De lá pra cá realizamos muitas atividades. Em 2009 assumi a direção do Grupo Sonho de Portugal, a dança portuguesa mais antiga de Alcântara, e desde essa época mantemos o grupo. Fazemos movimentação cultural o ano inteiro com teatro, temos vários espetáculos, dentre os quais a encenação da Paixão de Cristo é um dos maiores.
JP Turismo (PMS) – Como foi seu envolvimento com festivais de teatro?
HJ – Nós participamos, durante quase vinte anos, do Festival Maranhense de Teatro Estudantil – FEMATE, no qual realmente decolamos com o teatro de Alcântara, através do Centro de Ensino João Leitão. Concorremos em São Luís com várias escolas particulares, renomadas, até que conseguimos ficar em primeiro lugar, em duas edições do evento. Lembro que em 2015 conseguimos ganhar 7 troféus numa única edição do festival, e assim o teatro de Alcântara conseguiu alçar vôos mais altos. Essa movimentação com o teatro acontece o ano inteiro, em todas as datas comemorativas, e ainda fazemos ações sociais permanentes. Com 18 anos assumi a gestão da cultura no município de Alcântara, e aí fiquei durante quatro anos. Fui estagiário na Casa do Divino, Diretor do Museu Histórico de Alcântara – MHA, vereador, e voltei para a Casa do Divino, já como Diretor, e neste ano serei o Imperador do Festejo do Divino Espírito Santo de Alcântara, o que muito me honra.
JP Turismo (PMS) – O que significa, para você, ser Imperador do Festejo do Divino de Alcântara?
HJ – Ser Imperador do Divino é uma das missões mais importantes e intensas da minha vida. Tive a honra de chegar a esse cargo de Imperador após passar por dois outros cargos no escalão da festa. Fui Mordomo Baixo em 2008, e Mordomo Régio em 2017. Hoje, fazer o festejo pós-pandemia tem vários impactos, sobretudo econômicos, é uma luta. Eu penso que só quem de fato tem fé e ama a cultura de Alcântara e suas tradições aceita o desafio. Desafio prazeroso, mas muito oneroso; são despesas que aumentam mais, o que nos alerta para a preocupação com relação à manutenção do festejo. Caso não haja uma força tarefa para se garantir aumento de recursos para investimento no festejo, creio que em pouco tempo teremos dificuldade de encontrar pessoas disponíveis para realizar essa festa. A comunidade ajuda muito, mas hoje tudo está mais escasso, difícil. Contudo, é a alma do povo alcantarense, é a nossa essência. Então, viver, reviver o Divino Espírito Santo é o que nos motiva, mesmo em meio às dificuldades, para seguir em frente.
JP Turismo (PMS) – É realmente uma missão!
HJ – Existe uma máxima, entre nós alcantarenses, que diz que “O Divino tudo fará acontecer”. Isso é muito real. Quando a gente se disponibiliza para servi-Lo de corpo, alma e coração na certeza e no sentido de nos humilhar para que Ele cresça, as coisas vão acontecendo, mesmo com dificuldades, e isso acaba sendo um alento para que a gente não desista, porque são batalhas duras. Então, penso que ter um alcantarense Imperador, que tem militância com a juventude, trazendo nossos jovens para dentro do festejo para ver, viver, sentir, fazer e refletir, mostrando a eles que são responsáveis por seguir com essa tradição de saberes, é importantíssimo. Temos neste ano uma renovação das caixeiras, hoje temos novas caixeiras, o que se conseguiu com muita luta, e esse é um legado que queremos deixar para as próximas festas, partindo do princípio do evangelho que diz que “os humilhados serão exaltados”. Então, o Divino Espírito Santo possibilitou uma renovação das caixeiras, o que ficará para a história do festejo. Estamos aqui para receber a população e os visitantes, possibilitando solidariedade, afeto, amor, fé, esperança, compartilhando, recebendo e devolvendo, porque a festa é partilha na plenitude para todos.
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