Diariamente ouvimos ou assistimos os veículos de comunicação falarem de crise, e são várias estas crises, vão desde a crise sanitária, passam pela amorosa e chega até a crise econômica e financeira, objeto de nosso comentário. Se crise econômica é o ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de depressão, podemos dizer que estamos vivenciando uma? De tão amplo significado, estes momentos podem ser vividos por países, regiões ou por todo planeta, dentre as mais celebres crises financeiras mundiais, localizamos a vivida pela humanidade em 1929, após o crash da bolsa de Nova York, que se estendeu por mais de uma década.
Se é verdadeiro afirmarmos que o Brasil vive uma seríssima crise sanitária, não se converterá em acerto, dizermos o mesmo em relação a nossa economia. A menos que se configure em lastimável enganação as afirmativas diárias das classes dirigentes de que nosso PIB vem crescendo constantemente; é certo que embora alguns setores da economia estejam sentindo, mais que outros, os impactos da crise, o mesmo não podemos dizer em relação ao conjunto da economia e o crescimento do país.
O Governo Federal não pode falar em crise. Se o produto interno cresce, com certeza a máquina arrecadadora faz entrar maior volume de recursos no caixa da união. Em consequência da maior arrecadação haverá uma distribuição a maior para estados e municípios. Enquanto especialistas apontam um crescimento de nossa economia em taxas que variam de 5% a 5,7% a Associação Brasileira de Bancos estima que a inflação ficará na faixa de 5,8%, bem acima do teto previsto que era de 5,25, para 1921. Aí começa o desespero, pois este demônio chamado inflação tem uma predileção pelos mais vulneráveis.
Diante do exposto fica difícil não compreender o caráter injusto da distribuição das riquezas em nosso país, como justificar que nossa economia fique mais forte e rica se nosso povo fica mais pobre. Como não entender que uns poucos estão ficando cada vez mais ricos enquanto a grande massa assalariada, sobretudo aqueles na faixa de renda que oscila de R$ 1.700,00 reais para menos, estejam mais pobres e perdem o seu poder de compra e a capacidade de levar comida para casa.
Não vá falar, é bom aceitar o conselho, para ninguém do setor do agronegócio em crise, este setor tem batido permanentemente seus próprios índices de produtividade e impactado positivamente a balança comercial. Não dá, da mesma forma, para falar em problemas ao setor monopolista e oligopolista, quase sempre controlados por agências reguladoras, com regras que fogem ao conhecimento público. Menos ainda, fale ao setor minero metalúrgico e aos exportadores de proteínas animais desta infelicidade.
A crise existe e está matando esperanças e pessoas por todo território nacional, ela é desmedida para os mais fragilizados quer por efeitos recentes, ou por mazelas de toda vida. Não dá para não reconhecer o imenso prejuízo acumulado para o setor de entretenimento, puxados pela cadeia da música e de eventos sazonais, como o São João e o Carnaval, e o permanente como os bares, hotéis e shows.
Quando o estatístico italiano, Corrado Gini, em 1912, elaborou o conceito de COEFICIENTE DE GINI, que tem como objeto de trabalho a avaliação da distribuição das riquezas de determinado lugar ou país, ofereceu ao mundo civilizado um vigoroso instrumento de avaliação e denuncia social. Expresso por um número que varia de zero a um, sendo zero o marco da ausência de desigualdade de renda, enquanto o numeral um representa o máximo possível dela. Não dá para ficar calado quando o Brasil, neste momento, atinge a pior marca até então, em torno de 6,5%, e ainda assim, mais gente está fora no bolsa família e nos programas de distribuição de renda.
Sabemos, através da literatura e dos compêndios de história, da existência de dois Brasil, o preto e o branco. O Cento Oeste e Sul rico e o Nordeste e Norte pobre. O que mora na casa grande e os ocupantes da senzala. A síntese destes Brasis, pode ser definida com presteza e clareza pelo país dos ricos e brancos dos condomínios e mansões em contraposição aos pretos e pobres dos guetos e das favelas. Para estes últimos a crise é real, extermina e sufoca o caráter e a vontade de lutar. Por mais que você não deseje, são milhões, mais de um terço de nossos compatriotas, clamando por justiça social. Até quando Pátria Amada? Até quando Brasil? Tu, tu mesminho, assistirás impassível o choro de tantos?
Renato Dionisio – Poeta, Compositor e Produtor Cultural











































































