Quem, como eu, matraqueiro rapazola, em 1969/70, acompanhou Mané Onça (cantando “Guerreiro da Madre Deus é um batalhão pesado/e quem governa ele sou eu!/Puxei a lira/, eu vou cantar pra guarnecer/ e a turma da pesada /vai fazer terra tremer!”) e Vavá (“Maioba e Maracanã fizeram seleção/pra querer me ganhar!/Estou só com meu batalhão/e a mesa julgadora é quem vai julgar!”), e vem assistindo, nos últimos três anos, ao que foi o batalhão mais pesado da Ilha se escorando na Casa de Nagô, na Rua das Crioulas, para não confrontar Maioba e Maracanã, na frente da Casa das Minas, na Rua São Pantaleão, no amanhecer de São Pedro, sugere, com urgência, o seu resgate. Já estou calejado nesse movimento, pois, em 2008, liderei a fortificação comovente do Glorioso Batalhão do Boi da Madre de Deus, e, com orientação do advogado (jornalista e radialista) Josemar Pinheiro e reconhecimento da então promotora Sandra Elouf recebemos, na Justiça, o direito de dirigir o Boi, acéfalo, inclusive, do qual os dois foram padrinhos naquele ano. Numa eleição prestigiada, a diretoria que tive a honra de presidir, dentre meu sobrinho Edvaldo dos Santos Nogueira (Esnog), Boaventura (Benzinho), Expedito Lemos e Pedro Batista Ferreira (Pedro Cego), com apoio do comunitários Jorge Coutinho, Antônio Félix Moreira (Bruxela), Demóstenes (Dedé) , e Ângela Maria Carvalho estava disposta a arregaçar as mangas. O objetivo era o de fazer com que o cordão querido lembrasse, quando menos, um tanto do seu tempo áureo, quando, na comunidade, cultuado por todos.
Fiz empréstimo e o paguei ainda na minha gestão — Em vista da situação calamitosa achada, contrair empréstimo bancário, devidamente ressarcido com os ganhos do Boi no festejo junino, e no prazo estipulado (junto a uma financeira, em cuja agência, aqui, operava Antônio Henrique, filho do meu prezado amigo jornalista Marinaldo Gonçalves), para a aquisição de quase tudo: Comprei tecidos, para a confecção de 60 roupas de fita; matéria-prima, para seis de caboclos de pena; 40 pandeiros (de couro de cabra ou bode), produzidos pelo artesão Pedro Piauí, em São José de Ribamar; e restaurei a sede, com pintura nas paredes, e telhado totalmente consertado. Resumo da ópera: paguei muitas contas de luz elétrica e água, saindo o conjunto da vexatória situação de fazer gambiarras, com as perigosas religações clandestinas; cimentei o quintal, para neutralizar até o mosquito da dengue, e deixei na sede fogão industrial e congelador, para não pedir emprestado a terceiros os bens na época dos ensaios do Boi, São João e festança da morte.
O ressurgimento do batalhão lendário — Antes, eu já havia conseguido, para a sede, cadeiras modernas, com a Secretaria de Estado da Cultura (Secma), por meio do titular da pasta, ali, maestro Francisco Padilha, e solicitação nossa à diretora do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, Michol Carvalho. Na temporada junina, a “mantença”, com a comedoria, era farta, para os brincantes locais e os de fora. A lenda joanina, que um ano antes, de tão fraca que estava, foi vaiado em arraial do Anjo da Guarda (bairro de nosso chegados, ali, removidos quando da construção Barragem do Bacanga, em 1970), recomeçava a ser aplaudido, na toada de despedida. Com a prestação de contas aprovada, deixamos, para a diretoria que assumiu, em 2010, tudo de bom em comparação a que recebi com o Boi salvado de um atoleiro geral.
Em nome dos meus ascendentes: sem rachadinha — Aliás, foi em nome do meu bisavô materno (pescador, que não gelava sequer para tubarão em alto-mar de Araçaji, ou no Rio Bacanga, e que estaria entre os primeiros do Boi da Madre de Deus), que eu, ao saber pelo presidente Deusdedith Guimarães, que aquele tinha só uma brincada no São João, redigir crônica, no Sotaque da Ilha, pedindo que o governador Flávio Dino não deixasse o cordão madredivino centenário penalizado. Ele foi magistrado, no Palácio dos Leões, e o Boi passou a ter seis chamadas (um dinheiro vultoso, ali, fora as do órgão da cultura municipal, etc.), em 2018, e no que não estranhei, como se eu precisasse de alguma “rachadinha” para ajudar o bumba-boi da minha benquerença, Deusdedith Guimarães, após ser abraçado nos órgãos oficiais, com meu aval, renegou meus benefícios, eu conceituado em todas as esferas. Antes, por minha recomendação, o dito cujo recebeu mantimentos (sacas de arroz, feijão e farinha, pacotes de macarrão, latas de óleo, etc.), para auxiliar no de comer da rapaziada, na sede, no período junino, de Euclides Moreira, jornalista e professor do Curso de Comunicação da UFMA, e de Josemar Pinheiro, que fora padrinho do Boi, em 2008, vivos para confirmar as minhas verdades.
O Governo restaurou a sede do Boi Centenário — Com uma calorosa recepção, o secretário de Estado da Cultura e Turismo (Sectur), Diego Galdino, acompanhado do seu colega da Educação, Felipe Camarão, entregou, na tarde de 3.12.2018 (numa segunda-feira), restaurada, a sede do Boi, na Av. Vitorino Freire. Contemplaram a parte estrutural, elétrica e hidráulica, com o objetivo de tornar o bairro roteiro turístico, em itinerários que aliariam conhecimentos históricos, culturais e gastronômicos. Há pouco, o popular Rodrigão (neto do Seu Rodrigo, que foi um dos alterosos do batalhão pesado, em 1969), com a sinceridade que lhe é peculiar, disse-me, como sempre raciocinei, que na sede poderia funcionar até restaurante, para ajudar nas despesas do Boi, desde 2018, sinal de que não foi praticado nada prometido nesse sentido.
Um bumba-boi, comprovadamente, secular — Fazendo também as honras da casa, na condição de um dos fundadores da Associação Folclórica do Boi da Madre de Deus, em 5.3.1988, e muito escrevi daqui a fim de que o governo fizesse revitalização, ali, muito melhor que a minha restauração, sem sua posse toda, em 2008, este repórter, dando boas-vindas às suas excelências e acompanhantes, assinalou que o Governo do Estado favoreceu uma das manifestações mais longevas do Maranhão, a partir de anúncio, no jornal Pacotilha de 20.7.1891. Ali, o administrador do Matadouro Municipal, o primeiro na cidade, situado no bairro, convidando a população de São Luís para a Festa da Morte do Boi, evidenciou que ele dava o ar da sua graça, no São João, muito antes, e assim merecedor todo tempo de força comunitária e subsídio oficial.
Assim, solicitei àqueles que fossem porta-vozes de todos nós dali, ao governador Flávio Dino, do nosso agradecimento, pela renovação da sede, em prol do brinquedo secular.
Hora de encarar os contrários em nosso terreiro — Sei como o nosso batalhão pode encarar os pesos-pesados da Maioba e de Maracanã, no amanhecer de São Pedro, saindo de acuado, na Casa de Nagô, com eles na frente da Casa das Minas, e primeiro não é fingir que eles não se turbinaram mais do que o nosso batalhão após o Poeta da Ilha (Vavá) os mandar fazerem seleção, para querer nos ganhar! Minha família, desde o seu começo conhecido, sempre participou do Boi da Madre de Deus, e da Festa de São Pedro (com Meu Pai, Felipe Nery dos Santos-Filipão, e meus tios, pescadores, e Minha Avó paterna, Marcela, primeira zeladora da capela, alguns dos seus fundadores), e da Turma do Quinto, da qual Filipão só não foi fundador, pois no dia (25.12.1940) se encontrava em Salgado (Icatu, de onde veio rapazola, para a Madre de Deus), e dali trouxe o seu sobrinho, João Batista dos Santos, que se tornaria o maior presidente da Turma do Quinto, em tempo de crise e dos tricampeonatos, no advento do enredo, sempre pedindo minha força no jornal, para a agremiação gloriosa, eu foi ameaçada em 2000, onde, 20 anos depois, estou fazendo entrevistas, com os mais vividos, no bairro, para completar meu livro (o 19.º) sobre a Festa de São Pedro, e ouvindo que há débitos altos nessa gestão da entidade do Boi que parece não querer sucessora, contrariando o Estatuto, que eu ajudei a elaborar.
Sem “fake news”: O caso de Luzia Fernandes — Por isso, peço encarecidamente, que pesquisadores me procurem, se precisarem, para falar do Boi da Madre de Deus, com que Luiza Fernandes, mestranda na Unicamp, na linha de pesquisa Música, Cultura e Sociedade, não ouviria o chute, do ainda presidente da brincadeira relevante, de que o pescador Alexandre Juvenal da Silva houvera fundado o grupo, que é, comprovadamente, secular. Nada disso! Faltou-lhe tudo: veracidade, fundamentação científica que achamos na Academia universitária, qual eu garimpei, na Biblioteca Pública Benedito Leite, o anúncio no jornal Pacotilha, de 1891, convidando São Luís para a Morte do Boi da Madre de Deus, e permaneço pesquisando, sem poder assegurar que temos o mais antigo conjunto folclórico em atividade, no Maranhão, além de que Zé Garapé fora o seu terceiro ou quarto cantador, iniciando, adolescente, em 1905. Luzia Fernandes repassou a notícia falsa, nas redes sociais, em 17.6.2020. Ela tem na Cultura seu eixo principal de envolvimento e atuação, cruzando especialmente conhecimentos de música, vídeo e comunicação digital.
Texto: Herbert de Jesus Santos