O CMEB (Centro de Memória da Educação Brasileira) do Iserj (Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro) possui um grande acervo sobre a História do Iserj e História da Educação. Para publicizar esse acervo, periodicamente, a equipe do CMEB vai selecionar fotos e informações históricas interessantes a respeito do Instituto para publicarmos aqui no site.
Dessa vez, o enfoque é sobre o recorte que o professor Aderaldo Pereira dos Santos fez do acervo do CMEB com os educadores negros da instituição. Vamos falar a respeito do professor Hemetério José dos Santos, o primeiro professor negro da então Escola Normal do Distrito Federal, que depois se tornou Instituto de Educação., no Rio de Janeiro. Nasceu em Codó (MA), em 1858, 30 anos antes da Abolição da Escravatura no Brasil. Aos 16 anos, mudou-se para o Rio, onde terminou os estudos e tornou-se professor explicador de francês no Colégio D. Pedro II, quando, por sua competência, teria recebido a admiração do próprio imperador. Era gramático e filólogo, e foi professor da Escola Normal do Distrito Federal, do Colégio Pedro II e do Colégio Militar do Rio de Janeiro, pelo que recebeu, em 1920, a patente de Tenente-Coronel Honorário do Exército Brasileiro. Educador, que defendeu uma escola para todos, ao logo da sua vida publicou livros, escreveu para jornais e se firmou um respeitado estudioso da Língua Portuguesa, a ponto de ser um dos patronos da Academia Brasileira de Filologia. Sua atuação, no entanto, sempre esteve ligada às questões raciais e à Educação dos mais pobres.
Figura alterosa no CMEB – O Professor Hemetério José dos Santos foi uma figura histórica no combate ao racismo e em defesa da educação, na época em que viveu. Daria, inclusive, um belo debate no Iserj, com a participação do NEP-Raízes e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro da FAETEC (NEAB), a respeito de sua importante presença no quadro docente da Escola Normal do Distrito Federal. Nós, no CMEB, temos o documento da investidura dele como professor da Escola e a referência ao nome dele na Ata da Congregação de Professores em 1912, além dos Programas de Ensino nos anos de 1899, 1912, 1913 e 1914. No livro História do Instituto de Educação (1954), do professor catedrático Alfredo Balthazar da Silveira, também consta a informação de que Hemetério foi professor da casa (p. 122). Sua passagem pelo Instituto é pouco trabalhada nas pesquisas, por isso queremos divulgar as fontes históricas a respeito dele aqui no Instituto, para estimular os pesquisadores.
Educação aos pobres – O professor Aderaldo conta que, à época, Hemetério era uma figura proeminente, relacionava-se com pessoas da elite brasileira e aparecia nos jornais. E que, juntamente ao professor Manuel Bonfim, tinha ideias e iniciativas progressistas, como a criação de uma Escola Normal Livre: – O pensamento desses professores destoava da elite da época, eram pessoas que traziam a visão de que a educação tinha que chegar até a população pobre, por isso idealizaram essa Escola Normal Livre. A própria ideia de um curso normal à noite, na Escola Normal do Distrito Federal, já tinha esse propósito, tanto que, aqui, Hemetério foi professor do noturno, e quem vinha à noite estudar não eram os jovens da elite.
Texto: Herbert de Jesus Santos