Uma festa que absorve todas as formas de fé, sem discriminação social, cultural, religiosa ou de preferências, levada apenas pelo amor e pela reciprocidade


Quatorze romarias fazem da festa do Círio de Nazaré uma peregrinação continua de fé e amor pelas ruas da capital do Pará, Belém. Um conjunto de carros decorados com motivos religiosos enriquecem de beleza as procissões, entre eles: Carro de Plácido, Barca da Guarda Mirim, Barca Nova, Cesto de Promessas, Barca com Velas, Barca Portuguesa, Barca com Remos, Carro Dom Fuas, Carro da Sagrada Família e Carro da Saúde, além dos quatro Carros dos Anjos, que são conduzidos pela Catequese da Basílica Santuário de Nazaré e a Berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré.


Na festa do Círio de Nazaré na capital paraense, Belém, a força da fé e da religiosidade ganham proporções gigantescas. O número crescente de pessoas volta a provar que o acreditar do povo brasileiro conduz sua gente cada vez mais a aproximação com Deus, sem discriminação a religiões, mas sim, por caminhos que podem levar ao senhor, seja pela sua própria Fé no Pai, senhor Jesus Cristo, ou na condução de seus sentimentos e emoções.
“É sempre mesmo estando a trabalho muito emocionante acompanhar o Círio. Aqui se percebe o quanto a cidade vive esse momento, as pessoas participam, ficam mais solidárias. É uma questão cultural, uma questão turística e de religiosidade, onde as pessoas caminham em um mesmo propósito, e nós como jornalistas temos um papel importante, o de levar a notícia, a cobertura a quem de repente não pôde estar aqui, mas que de casa possa sentir essa emoção”, Pollyanna Gomes, apresentadora da TV Record Belém.


Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a maior procissão de fiéis do Brasil reúne a cada ano mais de 2 milhões de pessoas sempre no segundo sábado e domingo de outubro, festa essa que em sua maioria de vezes coincide com o Dia das Crianças, o que leva pais e filhos a percorrerem juntos os trajetos que a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é conduzida, deixando nos caminhos percorridos, lágrimas, choros, festas de fogos de artifícios, papeis picados que são jogados dos inúmeros edifícios. No caminho a perseverança dos pagadores de promessas, amontoados em filas, de joelhos ao chão, protegidos por papelões e tatames postos por familiares e amigos que amenizam as dores, no cumprimento de suas obrigações para com Nossa Senhora de Nazaré.


São imagens que levam o ser humano, a fazer uma busca profunda no seu intimo, numa reflexão do que se possa ser capaz de alcançar através da força da fé e da peregrinação, do acreditar na Santa que conduz o povo paraense, e segui-la na maior procissão em romaria caminhada do mundo, na festa que também conduz a imagem em procissão fluvial de Icoaraci, um dos oitos distrito do município Belém, por mar até a capital paraense.
Procissões e romarias em homenagem a Virgem Maria mostram um respeito daqueles que acompanham a Berlinda – estrutura de madeira e vidro que carrega a santa -, cada vez que a imagem cruza os inúmeros locais de concentração de pessoas.


Transportada desde sua saída na manhã do domingo (13/10), da Catedral Metropolitana de Belém por volta das 7h30, passando pelo Ver-o-Peso, Estação das Docas, Praça da República, entre outros pontos, a imagem alcança a Avenida de Nazaré em um percurso de mais ou menos 5 horas, em cerca de quase 4 km até a Basílica de Nazaré, onde lá permanece na Praça do Santuário para visitação dos fiéis.
A partir daí se formam em filas fiéis vindos de todos os lugares do mundo para ver individualmente a imagem de Nossa Senhora de Nazaré que ali fica até o Recírio – última procissão -, no dia 28/10, quando a imagem segue até o Colégio Gentil Bittencourt, onde permanece até o Círio de Nazaré de 2025.
Para Sandra Oliveira, quem participa do Círio acaba vivendo momentos intensos. “O Círio é uma emoção única, a chegada da Berlinda no cais do Ver-o-Peso é contagiante, uma cena que não sai da cabeça, assim como as lágrimas de pura emoção derramadas”, descreve, a maranhense que mais uma vez participou da festa.
Turismo religioso
O Círio de Nazaré é um dos eventos religiosos que colocam o Brasil na vitrine do turismo tanto nacional como internacional, gerando um fluxo de 189 milhões na economia paraense, dados da Secretaria de Estado do Turismo do Pará.


A festa cria um leque de oportunidades, impactando o comércio de hospedagens, alimentos e serviços, proporcionando o aumento dos negócios e novos empreendimentos que são aquecidos no período, tudo isso devido a chegada de turistas e as visitações nos principais pontos da cidade.
Na rede hoteleira a ocupação dos leitos atingiu 100% de ocupação, mas a grande demanda também da festa acaba sendo suprida com os anfitriões paraenses que hospedam amigos e parentes, principalmente vindos das mais diversas regiões como: Maranhão e Ceará (Nordeste), Tocantins e Goiás (Centro-Oeste) e do Rio de Janeiro e São Paulo (Sudeste), em sua maioria, mas também de todas as cidades do Brasil e do mundo.
“É sempre um prazer muito grande receber amigos para vivenciar o Círio de Nazaré, temos ao longo de todos esses anos sidos receptivos com muitos colegas, tudo isso para fazê-los entender essa religiosidade, pois o Círio não se explica, se vive”, acentua, Clívia Vilhena, moradora da Travessa Guajara, no Conjunto Bela Vista, em Belém.


A cidade apresentou um crescimento de 114% na participação de passagens aéreas vendidas para o período, em relação a outubro de 2023, os dados foram do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Pará, que estimou também um percentual de 10,6% a mais pessoas em Belém do que no ano anterior, no caso 2023.
Um outro detalhe importante ficou por conta do artesanato paraense, uma exposição no Parque Urbano Porto Futuro, a Feira de Artesanato do Círio (FAC) que se firmou como um dos principais atrativos correlacionados a festa, sendo realizada em sua 12ª edição. Foram 120 estandes e 113 artesãos que estiveram presentes expondo a multiplicidade do artesanato, em um ambiente com espaços gastronômicos e uma vasta programação cultural.


A gigantesca festa
A festa do Círio de Nazaré é um evento que mostra ao mundo uma serie de diferenciais que a tornam gigantesca. A organização do tráfego de veículos nos arredores, as estruturas de arquibancadas e palcos, os serviços de policiamentos bombeiros e médicos trabalhando em conjunto transmitem segurança e conforto a população, mesmo em uma festa onde as pessoas se aglomeram e amontoam em meio a multidão, o que a tornam um evento de proporções organizacionais de excelente operacionalização. Uma festa que acrescenta um resultado importante para o turismo religioso no Brasil, uma festa que apresenta a gastronomia, o artesanato, a cultura, a diversidade e a religiosidade paraense ao mundo.
Texto e Fotos: Gutemberg Bogéa