A Festa do Divino de Alcântara tem atravessado os séculos com um dos maiores festejos populares do Maranhão, representando a força da união de uma comunidade, a grande maioria de descendência quilombola, que comunga de um sentimento de devoção, alegria, força, fé, resistência.


Alcântara volta a respirar um tempo em que o Divino é coroado com toda pompa e circunstância, reproduzindo de uma forma ainda surpreendente a fartura que existia no passado, tanto no luxo dos altares e das indumentárias dos personagens da Corte, como nas comidas e bebidas distribuídas gratuitamente aos devotos e visitantes.


Em quase duas semanas de rituais intensos, a cidade dorme e acorda aos sons de foguetes e dos toques das alvoradas das caixeiras, quase sempre acompanhado pelas bandas de músicos que cada festeiro precisa garantir e que percorrem às ruas da cidade levando a pomba do Divino para abençoar moradores, casas e comércios e recolher jóias, que são transformadas em doces, almoços e licores, servidos fartamente em cada visita dos festeiros, de mordomos a imperador ou imperatriz.


Ninguém fica imune a esse sentimento que celebra o que Alcântara tem de melhor e mais bonito: a tradição de cultuar o Divino e ao mesmo tempo resgatar a solidariedade e o poder da alegria, compartilhado por uma Corte que traz a inocência e pureza das crianças como um referencial a ser seguido na vida real.
Pena que a Festa acaba neste Domingo de Pentecoste e voltam os desafios que o município tem enfrentado ao longo de sua história, alternando ciclos de prosperidade e abandono. Desta vez, espera-se que os pouco mais de 18 mil habitantes, que representam proporcionalmente a maior população quilombola do Brasil, sejam incluídos no processo de desenvolvimento regional que vem chegando como um trem em alta velocidade, tanto por terra, como pelo mar e pelo ar.
Além da criação do Centro Espacial de Alcântara (CEA)com a abertura para aluguel da Base para outros países, Alcântara vive a expectativa de implantação de um grande porto na Ilha do Cajual, interligado a uma ferrovia que vai conectar ainda mais o Maranhão aos principais mercados mundiais, resgatando o papel geopolítico que a região teve no passado. Só que agora com os olhos voltados também para a conquista de outros tesouros que estão no espaço sideral, com a posição privilegiada de Alcântara dentro da cobiçada e lucrativa corrida espacial.


joias… – Foto: Marilda Mascarenhas
Enquanto isso, a cidade vive e respira o Divino, e como recomenda o poeta José Chagas em seu belo poema épico “Alcântara a Negociação do Azul ou a Castração dos Anjos “Quando se vai a Alcântara, nada se pergunta, que a pergunta pode perder-se na resposta, ou a resposta não caber na pergunta”. Ou ainda (…) “Que ela é mais imaginação, que história, mais força de espírito que geografia, mas poesia que prosa(…)
Texto: Marilda Mascarenhas