Rafaela e Adriano (*)
“Sejas quente ou sejas frio, não sejas morno ou te vomito”, diz a carta de Laodiceia, no texto bíblico do Apocalipse. Pai, quem pôde te conhecer e saber das tuas convicções, e do caráter opinioso de tudo o que dizias e fazias, talvez saiba pouco de ti. Só quem pôde transpor essa primeira impressão e conheceu o tamanho do teu amor e teu senso de justiça é quem sabe o grande homem que tu fostes. Nunca morno, nunca indiferente, nunca conformado diante das injustiças. Sempre sensível ao mundo, generoso, capaz de se indignar e de levantar a voz contra a iniquidade.
Tu gostavas de festa, pai! De casa cheia, de carnaval, de ceia de Natal, de ritos e celebrações. Nós vamos seguir, pai, celebrando a vida, a cada pequena alegria. Tu és o esteio de quem nos tornamos, nos deu amor, nos ensinou o valor da honestidade para com os outros e com a gente mesmo. E se nem sempre esteve de acordo com nossas escolhas, soube aceitá-las, mesmo que aos trancos e barrancos. Sabemos que tu terias nos protegido de tudo sempre, mas que a vida é contingente, essa grande tensão permanente entre acaso e necessidade. Pai, nossa família se junta a quase outras 200 mil que sofreram perdas dolorosas, porque enfrentamos um vírus letal e um governo que louva a morte. Desse lugar onde muitos creem que não se deve falar de política, falamos! Falamos, porque somos teus filhos, nunca mornos, como recomenda a própria Bíblia, e esperamos que de onde tu nos vês agora ache graça da nossa ousadia. Pai, nós vamos denunciar todo o descaso com a vida, a banalidade do mal, a indiferença! Quentes ou frios, jamais mornos! Te amamos!
(*) Rafaela é jornalista, graduada pela UFMA; Regis Adriano é arquiteto, formado no Ceuma