Todos nós temos histórias para contar, mas algumas são tão emocionantes e cheias de aventura que poderiam gerar livros e filmes. É o que ocorreu com a vida do indigenista e escritor Fernando Schiavini. No último dia 6 de setembro, estreou na Mostra Competitiva de Documentários do 27th Inffinito Film Festival, “De Longe Toda Serra é Azul”, dirigido por Neto Borges.


O longa documental é baseado no livro homônimo de Fernando Schiavini, em que ele revisita os lugares e aldeias por onde passou a partir da década de 70. Com Zeca Baleiro na trilha sonora original e participação especial do ator Caio Blat, como narrador, o longa-metragem em estilo “doc-ensaio” foi financiado pela Ancine.
Roteiro


Além de registrar a trajetória de Schiavini, o filme resgata a história do indigenismo brasileiro republicano, inaugurado por Marechal Rondon, que teve seguidores ilustres, como Darcy Ribeiro, irmãos Villas Boas, Francisco Meirelles, José Porfírio de Carvalho, entre outros.
O filme também foi selecionado para participar do 47º Festival Internacional de Cinema de São Paulo, com exibição pública programada para o dia 19 de outubro de 2023.
Quem é Schiavini


Fernando Schiavini, indigenista renomado de Ituêta, Minas Gerais, com 70 anos de idade, iniciou sua carreira no indigenismo nos anos 70 como “Chefe de Posto Indígena” pela Funai na Amazônia. Juntamente com um grupo combativo de indigenistas, ele desafiou as políticas do governo militar, transformando a Funai em uma defensora dos direitos indígenas.
Após enfrentar demissões, processos e proibições governamentais, Schiavini foi anistiado em 1993, retornando à Funai após oito anos de trabalho em ONGs. Ele é autor de quatro livros sobre temas indígenas e indigenistas, sendo “De Longe Toda Serra É Azul” adaptado para o cinema por Neto Borges.
Schiavini recebeu prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho na recuperação de sementes tradicionais indígenas, impulsionando a criação das Feiras de Sementes Tradicionais entre os Krahô e outros povos indígenas, tornando-se política pública.
Além disso, ele é o idealizador da Aldeia Multiétnica, na Chapada dos Veadeiros (GO), e desenvolve programas de etnoturismo em parceria com a empresa Tekoá Brasil junto ao povo Krahô.
Mesmo após a aposentadoria, Schiavini continua ativo como ativista político nas redes sociais e apoiador de projetos que beneficiam aldeias indígenas.
Indigenista foi mentor de projeto de etnoturismo no Tocantins


A demanda dos povos originários do Tocantins, em especial o povo Krahô, pela inserção do turismo em suas terras é antiga. A complexidade da operação adiou a experiência até 2017, quando lideranças Krahô da Aldeia Manoel Alves, a 8 km de Itacajá (TO) iniciaram parceria com a Tekoá Brasil, por intermédio do indigenista Fernando Schiavini.
A implantação do projeto-piloto na Aldeia Manoel Alves Pequeno, após dois anos de negociações e capacitações se consolidou como exemplo bem-sucedido em seu modelo de gestão compartilhada, resultando em convites para parcerias com outras etnias. Processo este interrompido pela pandemia.
Segundo o diretor da Tekoá Brasil, Marcos Luz, o País já conta com experiências exitosas em algumas comunidades quilombolas e indígenas que revelam como o turismo pode colaborar para o desenvolvimento social e econômico sem aculturação.
“O etnoturismo não segue a lógica massificada do turismo convencional. Sua proposta é convidar o visitante a experimentar detalhes do modo de vida tradicional. Nessa experiência, ele entra em contato com a culinária local, os costumes, as crenças e hábitos da comunidade visitada”, ressalta Marcos Luz, lembrando que o contato com Fernando Schiavini ocorreu durante uma das edições da Aldeia Multiétnica e que sua participação foi fundamental para o desenvolvimento do projeto.
Mais do que qualquer outro segmento turístico, o etno busca a transversalidade com outros segmentos, como o turismo rural, o ecoturismo, o turismo de aventura, o turismo gastronômico, entre outros.
Defensor do etnoturismo como fonte de sustentabilidade e preservação sociocultural das comunidades indígenas, Fernando Schiavini tem buscado recursos e parcerias para retomar o projeto junto ao povo Krahô.


Ficha técnica:
Filme: De Longe Toda Serra é Azul – Memórias de um Indigenista – Longa Metragem 82’
Produção: OLHO Filmes e Gaya Filmes
Distribuição: Elos Stúdios
Produtores: Renato Barbieri e Neto Borges
Direção, Roteiro e Montagem: Neto Borges
Produtoras executivas: Vanessa Medrado e Natália Brandino
Coordenadora de Produção: Júlia Tolentino
Roteiro de Montagem: Pesquisa: Marilda Donatelli
Diretores de Fotografia: André Carvalheira, Alan Shivas, Fred Siewerdt
Edição e Montagem: Diego Cajueiro e Neto Borges
Pesquisa Iconográfica: Paula Cinqueti
Direção de Arte: Lucia Gambelli
Assistente de Direção: Etapa Tocantins e preparadora de elenco: Karine Carvalho
Produtor de Pós Produção: Walder Júnior (@waldermjr)
ANCINE #BRDE.
Texto: Seleucia Fontes
Edição: Gutemberg Bogéa
Maravilha de história! Quero muito ver o filme pq já li o livro, mas com a equipe do cinema e com os Krah}ô em cena, vai ser ainda melhor! Parabéns!