“Preto rei! Preto é rei / Nesse Rio de Oxossi fiz o meu gongá / Preto rei! Preto é rei / Saravá Milton Gonçalves na coroa de Oxalá / Obá obá obára ôôô / Obá obá obára ôôô”.
“Sonho meu / De Erê Ganga, Zumbí / Tantas páginas e livros / E miragens pela frente / Sonho meu / Desde cedo aprendi / Que o verbo resistir / Se conjuga no presente”.
Assim a Escola de Samba Acadêmicos de Santa Cruz do populoso e extenso bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro fazia sua triunfante entrada na Marquês de Sapucaí, no dia 21 de abril (feriado de Tiradentes), quinta-feira dos desfiles da Série Ouro do carnaval carioca, inspiração vinda do livro da mestra e doutora em História, Elaine Pereira Rocha, autora do livro “Milton Gonçalves – Memórias históricas de um ator afro-brasileiro”, que levou a escola a homenagear Milton Gonçalves, importante personalidade na luta racial contra o preconceito no Brasil.
Milton Gonçalves faleceu na segunda-feira (30), aos 88 anos por problemas de saúde que o mesmo enfrentava desde 2020, quando sofreu um AVC. No desfile, a trajetória do mineiro nascido em 1933, na cidade de Monte Santo, Minas Gerais foi contada desde sua chegada a TV Globo como integrante do primeiro elenco da emissora.
Na TV brasileira marcou épocas e personagens inesquecíveis como o Zelão de O Bem-Amado (1973) onde imagens do ator marcaram a televisão em sua obstinação em construir um par de asas e voar, momento esse realizado no último captulo da novela, assim como o médico Percival, de Pecado Capital de (1975), um médico renomado, algo raro nas novelas da época, onde atores negros atuavam apenas como empregados, ou papeis secundários.
Com mais de quarenta trabalhos entre novelas e minisséries, o ator e diretor, também fez programas infantis como em Vila Sésamo, em 1972, onde viveu o professor Leão do infantil, além de inúmeras atuações ao lado de um dos mais importantes humoristas brasileiro já falecido Chico Anysio, cearense de Maranguape, semanalmente exibido entre 5 de janeiro de 1973 e 24 de abril de 1980.
Em um de seus grandes momentos no desfile, a agremiação do Oeste carioca lembrou uma de suas paixões, o Clube de Regatas Flamengo, o Rubro Negro, conhecido como Mais Querido do Brasil, com a Ala Urubu Rei, onde a agremiação teve um de seus ápices de vibração da Sapucaí ao clube de futebol mais popular do país.
Um samba de linha melódica belíssima, composto por Elson Ramires / Junior Fionda / Rildo Seixas / Samir Trindade e interpretação exemplar de Roninho, em uma noite mágica presenciada pela equipe do JP Turismo, na pessoa do seu diretor geral, Gutemberg Marques Bogéa, que como flamenguista na Ala Urubu Rei teve sua vida mais uma vez marcada e colocada como honra por está presente nessa homenagem a umas das personalidades mais importantes da teledramaturgia brasileira.


Veja videos e imagens do Milton Gonçalves na TV Brasileira e da homenagem da Acadêmicos de Santa Cruz ao artista.
O belo samba enredo da Acadêmicos de Santa Cruz em um emocionante desfile na Marquês de Sapucaí – Video: Reprodução
Acadêmicos de Santa Cruz – Samba-Enredo 2022
(Axé Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz)
Banzo ê Banzo ê vai embora
Ê saudade grande feito monte santo
Santifica o filho mais um rei do Congo
Meu retinto peito bate em ritmo de bombo
Tenho a força do axé ginga de Catupé
Agbê, gonguê rufam caixas de lembrança
Em São Paulo da esperança
Cor da pele fez lição
Nego véio ensinou
A talhar a… Vida
Na coragem e na luta
Dessa gente perseguida
Sonho meu!
De Erê Ganga, Zumbí
Tantas páginas e livros
E miragens pela frente
Sonho meu
Desde cedo aprendi
Que o verbo resistir
Se conjuga no presente
Vencer as feridas (açoite cultural)
Arenas da vida (senzala social)
E ser bem amado (a luta ao fim servil)
Persistir no Brasil
É sangue de Palmares <
Nas veias emoção, nos palcos meus altares
Orixá da nação
Espelho a cintilar a arte
Um santo, a cruz da liberdade
A Santa Cruz é liberdade
Preto rei! Preto é rei
Nesse Rio de Oxossi fiz o meu gongá
Preto rei! Preto é rei
Saravá Milton Gonçalves na coroa de Oxalá
Obá obá obára ôôô
Obá obá obára ôôô







