Hoje a saudade me abraçou…É que eu sou de uma época, que se contava estrelas no céu, no terreiro da casa. Onde o cheirinho de terra molhada era a alegria e impregnava as narinas, que guardo até hoje. São memórias olfativas.
Que correr atrás de vagalume; de apertar às campainhas e sair correndo.
Subir no pé de fruta, e comê-la sem lavar. Tínhamos anticorpos resistentes.
Sentar no chão, todo sujo de tanto correr atrás de bola, alegria pura, a maior riqueza do mundo. De quando andar descalço não dava nenhum resfriado. No máximo bicho de pé, e coceira boa, que se coçava no punho da rede.
Não tinha essa de marcar horário de ir para rua. A gente ia e todos estavam lá.
Ah, se a gente soubesse que aquele dia seria a última brincadeira de infância.
A gente teria pelo menos dado um adeus.
Dias atrás fui ao interior do Maranhão a trabalho, com uma equipe de jovens arquitetos e engenheiros para levantar os pontos turísticos dos municípios da região do Munim. O governo do estado vai atualizar a sinalização, com placas bilíngues nos municípios que compõem a região.
Rosário, distante 70 km de São Luís, passagem obrigatória para a região; era lá que passava as férias escolares, quando criança.
Meus avós maternos, Agripino Nunes e Maria do Carmo, moravam em uma ampla casa, cujo terreno dava os fundos para o rio Itapecuru. No período escolar, desde o primeiro dia, entrava em contagem regressiva para a chegada das férias; e tão logo terminavam as aulas, ia de mala e cuia para a bucólica casa em Rosário. Casa que povoa meu imaginário até hoje, no outono da vida.
Garantia de brincadeiras o dia todo, do acordar ao sol se por, dando lugar ao luar que banhava de prateado as noites. Almoçava-se, ou melhor, engolia-se sem mastigar, para não perder tempo, pois já estavam os garotos da rua, no portão, a chamar para as brincadeiras vespertinas.
Mas o bom mesmo eram as brincadeiras no amplo quintal de terra, emoldurado por enormes mangueira, que davam frutos e sombra. Pelada, às vezes com bola improvisada; brincar de soltar papagaio, que era feito por nós mesmo com talos de bambu, papel de seda colorido, e rabo de algodão, além do cerol feito com vidro moído. Jogar peão, ou xuxo, feito com arame, jogado após a chuva, em terra molhada, riscada no chão.
Conto essa história, pois em minha ida à Rosário, vi um chão vazio, com mato alto onde fora a casa da minha infância, onde passei bons tempos e fui tão feliz. Olhei em silêncio para aquele terreno baldio, que em nada parecia com a ampla e acolhedora casa dos meus avós. Lembrei de Agripino e Maria do Carmo, lembrei de minha querida mãe, Maria da Conceição, que eles deram o apelido de Dinha; ouvi sua linda voz. Senti saudade de mim, do menino que ficou lá atrás. O tempo, inexoravelmente, seguiu seu curso, a memória teimosamente devolveu-me ao passado.
Assim, do nada aparecem as saudades. De tempos preciosos, de anos dourados em que o coração sonhava sem autocríticas e o sorriso era fácil no rosto. Que saudades do tempo que não pensava tanto, que só desfrutava os dias. De quando brincava no meio da rua descalça, e não tinha medo do futuro nem do passado. Saudade de viver sem se preocupar em ter, nem ser, nem o que os outros pensam e querem de nós, só viver… Só viver.
Luiz Thadeu Nunes e Silva – Engenheiro Agrônomo, escritor e estudante de jornalismo