Esta semana assisti, em um programa de TV, uma matéria sobre pessoas solitárias que estão usando as ferramentas da IA, Inteligência artificial, para conversarem, na tentativa de aplacarem a solidão.
O aumento da solidão e o isolamento social afetam um terço da população mundial e podem trazer sérias consequências para a saúde, como o aumento do risco de doenças mentais, obesidade, demência e até morte precoce. Um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Auckland, Duke e Cornell aponta que robôs com inteligência artificial podem ser importantes aliados na luta contra o problema.
O estudo, publicado na revista Science Robotics, apresenta sugestões para governos e faz um apelo para o trabalho em conjunto com o objetivo de desenvolver diretrizes de combate aos problemas causados pela solidão. Também propõe o uso da tecnologia, através de robôs e da IA.
“No momento, todas as evidências apontam para ter um amigo de verdade como a melhor solução. Mas até que a sociedade priorize a conexão social e os cuidados com os idosos, os robôs são uma solução para os milhões de pessoas isoladas que não têm outras soluções”, falou a especialista em saúde pública, Murali Doraiswamy, professora de psiquiatria e geriatria da Universidade Duke e membro do Instituto Duke para Ciências do Cérebro.
Diversas pesquisas sugerem que os robôs podem reduzir o estresse e a solidão e ajudar as pessoas mais velhas a permanecerem saudáveis e ativas em suas casas.
Testes com a tecnologia são abundantes, mas o avanço da IA pode agora promover conexões sociais mais fortes com humanos.
O ChatGPT, por exemplo, o mais conhecido, é baseado em modelos de linguagem e permite que os robôs se envolvam em conversas mais espontâneas e até mesmo imitem as vozes de velhos amigos e entes queridos que faleceram.
A IA apresenta oportunidades empolgantes para dar aos robôs companheiros maiores habilidades para construir conexão social. Mas precisamos ter cuidado para construir regras para garantir que elas sejam morais e confiáveis.
“Com as diretrizes éticas certas podemos ser capazes de aproveitar o trabalho atual para usar robôs para criar uma sociedade mais saudável”, concluem os autores do estudo.
Nesse contexto, surge uma questão intrigante e, ao mesmo tempo, delicada: como a interação com esses sistemas de IA influencia o bem-estar psicológico de pessoas que buscam apoio em companhias virtuais? Sob a ótica da psicologia cognitivo-comportamental, o objetivo é entender os fatores que levam indivíduos a formarem vínculos com assistentes virtuais, bem como os impactos emocionais e comportamentais dessa interação. Embora a IA tenha o potencial de fornecer conforto e companhia, há também preocupações sobre a possível intensificação da solidão e dos transtornos mentais para aqueles que substituem relações humanas por interações digitais.
Considerando o caso de adolescentes que formam laços emocionais intensos com chatbots, especialmente aqueles com histórico de vulnerabilidade emocional, torna-se essencial examinar em profundidade os efeitos psicológicos dessas interações. Em outras palavras: a IA pode realmente preencher o vazio deixado pela falta de conexão humana? Ou há um limite ético e psicológico que, uma vez ultrapassado, pode resultar em consequências adversas?
Fico com o pensamento do filósofo Friedrich Nietzsche que considerava a solidão uma oportunidade de aprendizagem e uma condição necessária para a superação da decadência. Ele acreditava que a solidão permite a ampliação da visão e a distinção. A solidão é uma oportunidade de aprender a amar a própria companhia.
A solidão é um ensinamento do espírito livre. A solidão é uma forma de afirmação de si que ultrapassa a moralidade consolidada. A solidão é necessária para quem busca a verdade. A solidão é uma condição de possibilidade para a superação da decadência.
Sou antigo, e acredito que nada substitua uma boa conversa, com familiares ou amigos próximos. É terapêutico.
Luiz Thadeu Nunes e Silva – Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.