Na semana passada ocupei o nobre espaço deste jornal com a crônica “Amar é construção”, e citei a frase do escritor argentino Jorge Luis Borges, que no final da vida, disse: “ Eu cometi o pior dos pecados de um ser humano: não fui feliz”. A busca pela felicidade é permanente em qualquer tempo.
A crônica era sobre a construção das relações humanas, especialmente o amor entre casais. Fui ao casamento de um jovem casal, e o celebrante falou que “o que acaba com os relacionamentos não são as diferenças, mas as indiferenças”.
Recebi várias mensagens de leitores sobre o tema. Destaco duas.
Uma leitora de nome Valquíria, me escreveu: “É muito triste perceber tantos relacionamentos falindo; mais triste ainda é perceber o que está por trás de algumas dessas rupturas de alianças. Por incrível que pareça, existem muitos casais se separando porque estão desnutridos emocionalmente, exatamente isso, os cônjuges não trocam, de forma satisfatória, o contato físico. São casais constituídos por pessoas que, possivelmente, se amem, porém, por alguma razão reduziram ou pararam com o contato físico tão nec essário para alimentar a conexão entre eles.
Alguns casamentos teriam tudo para serem muito felizes, porém, por um descuido, um problema se instala e vai se agigantando até tornar-se irreversível. É estarrecedora essa constatação, mas baseado em desabafos que tenho ouvido, tanto de homens quanto de mulheres, alguns casamentos chegam à ruína porque carinhos tão simples como um abraço deixaram de fazer parte do cotidiano do casal, os beijos, que no início eram sempre demonstração de desejo e afeto, transformaram-se em discretos selinhos, e olhe lá”. Concordo plenamente com Valquíria. Com o passar do tempo parece que os casais focam a sua atenção em muitas questões, porém, pouco a pouco vão negligenciando algo que é vital para a relação: o toque. Por vários descuidos, os cônjuges vão se desconectando emocionalmente e fisicamente e, quando caem em si, já existe um muro gigante entre eles. Acredito que nem todas as pessoas tenham consciência do quão importante é o contato físico, especialmente para a mulher.
Outro leitora, Angélica, me escreveu para dizer que vive com a mesma marido há 40 anos, mas não tem mais alegria no relacionamento, e acrescenta: “Talvez seja uma medrosa para acabar, pois temos filhos crescidos, casados, e netos que amo. Construímos patrimônio, e a essa altura da vida fica difícil de separar”.
Verdade, separar não é uma coisa fácil, indolor. Trabalhei com um sujeito pacato, reservado, pouco falava de sua vida. Casado com a mesma mulher há mais de quarenta anos. Aposentado, em casa, sem ter se preparado para a aposentadoria; solitário, encontrou uma namorada pela internet. Eufórico, começou a sair de casa todas as tarde. Descuidado, a mulher descobriu sua pulada de cerca. Mesmo com um casamento acabado, após a traição, a mulher não o quis mais. Divorciaram, ele foi morar sozinho. O namoro não demorou muito, e ele ficou desamparado. Diabético, deprimido, não aguentou a solidão, morr eu em pouco tempo.
Somos seres afetivos, carentes de atenção, carinho e amor. Sabemos também, que algumas pessoas valorizam mais do que outras essa comunicação corporal, entretanto, ela deve sempre estar presente dentro de um relacionamento afetuoso. Um abraço, por exemplo, transmite muitas sensações como o acolhimento, o relaxamento, a sensação de segurança etc. Embora silencioso, um abraço pode transmitir a seguinte mensagem a quem recebe: “eu estou aqui e eu estou contigo” e por vezes, isso é tudo o que alguém precisa sentir após um dia tenso e corrido.
Gosto de uma frase do escritor Rubem Alves: “A arte de amar e a arte de ouvir estão intimamente ligadas”. Em tempos de redes sociais em que o tempo acelerou, e quase ninguém presta atenção no outro, quantos relacionamentos seriam salvos apenas deixando o smartphone de lado, e envolver o outro em um afetuoso abraço.
O cônjuge precisa disso quando está cansado, quando está triste, quando está tenso, quando está assustado e quando está feliz também. Ofertar carinho e afeto ao cônjuge é o melhor investimento para o seu casamento, o retorno é garantido.
Luiz Thadeu Nunes e Silva – Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências.
E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br