Segundo nos ensina a antropologia e a sociologia: é a cultura de um povo que o apresenta ao mundo, aos olhos e julgamento valoroso de todos. É tão importante que, “grosseiramente”, podemos afirmar, ter paralelo com o sobrenome, no caso das pessoas naturais, para definir a origem, o ramo e a ascendência familiar. Ela, a cultura, e quem nos identifica e nos torna único ou participante do mesmo tronco social.
Pensando assim, todas as vezes que, como produtor cultural, apresento o Boi Pirilampo, mundo afora, me pergunto se estou sendo fidedigno na representação que faço da alma, dos costumes e dos valores que chegaram até nós, legados por nossos ancestrais. Desta forma, este fato nos torna guardião destes conhecimentos e valores e nos impõe a obrigação de conduzi-los ao domínio de gerações futuras.
Como alguém que dedicou grande parte de sua existência produtiva ao reconhecimento e a defesa de nossa cultura popular, seja no São João ou no carnaval, não posso, a menos que deseje uma contenda com minha consciência, deixar de reconhecer que o Estado, já a mais tempo, e a Prefeitura de São Luís, de modos distintos, têm buscado formas de divulgar nossa pujança e beleza cultural, como forma de atrair ouvintes e espectadores que, em si encantando com estas belezas, possam movimentar a chamada economia produtiva da cultura, gerando emprego, renda e desenvolvimento para nossa gente.
Neste sentido, quero louvar a iniciativa dos poderes citados, no aumento do volume dos recursos financeiros, utilizados este ano, para a preparação dos palcos, som, luz, decoração e divulgação dos festejos, bem como, felicitá-los pelo alongamento das festividades, o que abre a perspectiva de termos nosso São João coincidindo com o período das férias escolares em todo país.
Meu pretencioso comentário, tem o condão de oferecer o contradito a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, atacam estes investimentos. Quem diz é muito investimento! Para ser correto, deveria dizer o turismo não nos interessa. Quem diz que isto não é essencial! Para ser verdadeiro, deveria dizer não ao aumento da participação da cultura na formação de PIB do Maranhão. Quem por ignorância ou má fé afirma não ser relevante! Oferece rotunda declaração de desamor a nossa gente.
Todos sabemos que o carnaval do Rio de Janeiro é considerado o maior espetáculo da terra, somente não sabemos, quanto aquele Estado investiu, por décadas, para alcançar este resultado. Todos sabemos a pujança do carnaval de Salvador, não sabemos é do esforço para este resultado. Uma coisa, entretanto, todos deveriam saber: o estado de Pernambuco está, como da mesma forma a Paraíba, gastando milhões na tentativa de fazer de Caruaru e Campina Grande a terra do maior São João do Brasil.
Temos São Luís, patrimônio da humanidade, temos a Floresta dos Guarás, a Chapada das Mesas, o Delta das Américas e o fantástico Parque Nacional dos Lençóis, todos, de alguma forma, precisando serem mostrados e divulgados. Por que então não associar a tanta beleza a pujança de nossas manifestações culturais, únicas e singulares. Por que não aproveitar tanto, com tão pouco, para fazer deste Maranhão o maior destino turístico brasileiro? Por que perder a oportunidade de transformar nosso São João na maior festa junina do mundo?
Temos que enxergar nosso estado como a “terra da promissão” e repudiar o conceito pessimista da “terra do já teve”. Temos de prometer as futuras gerações o abandono do retrovisor para descortinar o luminoso para brisa do amanhã. Temos que aprender a encantar, a maravilhar todos que nos conhecem ou de nós tomam ciência, para tanto, façamos couro ao poeta… “conhecendo nossa terra, vai saber quem somos nós e para conversar com Deus vá ao Parque dos Lençóis”.
Renato Dionísio – Historiador, Poeta, Compositor e produtor Cultural