Foi lançada na segunda-feira passada, às 18h, no Centro de Ensino José Giorcelli Costa, na Avenida Ribamar Pinheiro, no Bairro Madre de Deus, a cartilha paradidática Madre Deus: Um Balaio de Histórias, com organização do professor do IEMA (Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão), Flaviomiro Silva Mendonça. Contou com diagramação, edição e projeto de arte de Débora Maria de Andrade Santos, e produção, texto e imagens de Carla Bianca Neves de Sousa, David Carlos Dantas Rocha, Débora Maria de Andrade Santos, Diogo Frazão Cunha Silva Lima, Flaviomiro Silva Mendonça(professor), Giovanna Barbosa Soares, Letícia Cristina Sousa da Mata, Mariana Souza da Silva e Sarah Stephanie Linhares Soeiro. São estudantes de História da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) e bolsistas do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), do qual o Prof. Flaviomiro é supervisor e que tem como coordenador o Prof. Carlos Alberto Ximendes, do Curso de História da UEMA.
Antes, às 16h, houve visitação ao Cemitério do Gavião, onde Davi Carlos Dantas Rocha discursou uma síntese sobre o campo santo mais antigo de São Luís, fundado em 1855, após uma epidemia de varíola que abateu parte da população da cidade; lá estão sepultados o poeta Sousândrade, governador Benedito Leite, médica e política Maria Aragão, os poetas Nauro Machado (um dos maiores cantores de São Luís) e Bandeira Tribuzi (autor de Louvação a São Luís, o Hino da Cidade), o cantador de bumba-boi, Coxinho, e o carnavalesco Joãozinho Trinta. Na Casa das Minas, Giovanna Soares e Débora Santos resumiram os conhecimentos adquiridos sobre o terreiro de matriz africana mais antigo do Maranhão, datado do meado do século 19: fundado por escravos originários do Benim, antigo Daomé, localizado na Rua de São Pantaleão, n. 857, liderados por Maria Jesuína, nome aportuguesado, para despistar possíveis inimigos deixados em sua terra natal de Nã Agotimé, a rainha do antigo reino daomeano e primeira chefe da Casa das Minas. Nesse ponto, elas faziam perguntas para os alunos do José Giorcelli Costa que respondiam tudo corretamente, quanto o filho da rainha, Guezo, quando soube do seu paradeiro, veio buscá-la e a levou para Daomé, por haver derrotado os seus desafetos.
De Cânhamo ao Ceprama, num prédio de 1891— No Ceprama (Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão), vinculado à Secretaria de Turismo do Governo do Maranhão, o professor Flaviomiro explanou que ocupa o prédio da antiga Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo, construído em 1891. A Fábrica Cânhamo funcionou até o início dos anos 1970, e contava com 105 teares, 28 máquinas, 220 operários, produzindo 1,4 milhão de metros de estopa por ano, em média.
Capela e Festa de São Pedro — Na Capela de São Pedro, Diogo Frazão Cunha Silva Lima enfatizou a origem da tradição cultural, em 1940, com uma igrejinha de taipa e coberta de palha, com a imagem do santo, começando, oficialmente, o Festejo do Padroeiro dos Pescadores, em 29 de junho daquele ano, tendo mais três construções com esta de agora de estilo moderno. Ali, o jornalista, poeta, prosador e folclorista Herbert de Jesus Santos, também pesquisador, que, convidado, acompanhava a comitiva, elogiou a narração como ele repassou para Diogo Frazão, ao ser entrevistado por ele, na condição de filho e sobrinho de pescadores, alguns dos criadores da Festa de São Pedro, qual a sua avó paterna, Marcelina Cirila dos Santos (Dona Marcela), a primeira zeladora da capela, e com uma obra literária inédita tratando do assunto, com fotos e fatos emocionantes: Tudo a Ver com o Peixe de São Pedro (A Festa do Pedro Santo, o Padroeiro dos Pescadores, no Bairro da Madre de Deus), com mais de 300 páginas. Herbert de Jesus Santos foi entrevistado pela Reportagem da TV Mirante, que desde a saída do Centro de Ensino José Giorcelli Costa fazia a cobertura do passeio cultural de relevo. Em 2007, ele reuniu parentes e vizinhos mais velhos do bairro, como o pescador aposentado José Raimundo Carvalho, o Zé de Zuleide, lúcido nos seus 105 anos, e padronizou, corretamente, o tempo da Festa de São Pedro: com a igrejinha, imagem do glorioso e rezas, teve início em 1940.
Fonte do Bispo e Casa de Nagô —- Houve dias antes, sequenciando a trilha histórica urbana, o relato de Sarah Stephanie Linhares Soeiro sobre a Fonte do Bispo, na comunidade da mesma nomeação. A origem do seu nome se deveu a uma divergência, em 1699, entre o bispo Dom Frei Timóteo do Sacramento e o ouvidor-geral Mateus Dias da Costa. Foi decretada a prisão domiciliar do bispo, em seu palácio, no Largo de Santiago. Sem poder receber visitas e sem ter como renovar os meios de sobrevivência alimentar, rompeu o isolamento e, de vasilha em punho, foi apanhar água na fonte mais próxima de sua residência. Desde então, a nascente ficou conhecida como Fonte do Bispo, dando nome à Rua da Fonte do Bispo (no final da Rua das Crioulas, ou Cândido Ribeiro) e ao Bairro da Fonte do Bispo. A Casa de Nagô teve a apresentação sintetizada da pesquisa de Letícia Cristina Souza da Mata sobre o terreiro localizado na Rua Cândido Ribeiro (ou Rua das Crioulas), 799 – Centro, e que foi fundado um pouco depois da Casa das Minas, pela africana Josefa, oriunda possivelmente de Abeokutá, que foi consagrado ao orixá Xangô.
A Casa foi tombada em 1986 por seu valor histórico para o Estado do Maranhão, através da Superintendência de Proteção ao Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico do Maranhão- SPPHAP através do Decreto Estadual de n° 10.029.
Apresentação da obra –— Em sua apresentação, “O Bairro Madre de Deus é reconhecido por ser o ponto mais cultural e artístico de São Luís. Por isso, a importância acerca da Educação Patrimonial para destacar a relevância histórica do local e dos seus patrimônios materiais e imateriais. Este livro, assim, é resultado do processo de pesquisa feita por bolsistas do PIBID a fim de incentivar a reflexão sobre a importância do patrimônio e despertar a curiosidade (especialmente) dos educandos do Centro de Ensino José Giorcelli Costa para o seu entorno e, principalmente, fortalecer a identidade cultural. Sobretudo, auxiliar na criação de uma consciência patrimonial que vai além dos limites da escola e permeia a experiência comunitária, na interação dos alunos com a comunidade em que estão inseridos!”
Patrimônios Históricos-— No título, foram considerados Patrimônios Históricos da Madre de Deus: as fábricas de tecidos (Cânhamo e São Luís), Cemitério do Gavião, Capela de São Pedro, Casa das Minas, Casa de Nagô, Centro de Ensino José Giorcelli Costa, Fonte do Bispo, além de Matadouro da Madre de Deus e com Madre de Deus: a caminho das suas origens. Consoante Flaviomiro, a cartilha é uma síntese das pesquisas do grupo, e que no segundo semestre deverá ser lançado um livro com os artigos completos.
Texto: Herbert de Jesus Santos
Parabéns ao Flaviomiro por essa louvável iniciativa e pelo árduo trabalho desempenhado em prol da preservação da nossa história. Felicitações ao poeta Herbert de Jesus e a todos e todas envolvidos na edição desse trabalho.
Um trabalho de suma importância para o resgate da nossa história através da memória.
Que outros bairros e atrativos possam ser trabalhados nessas inumeras possibilidades de resgates históricos.
Abraço