Dentro do que consideramos conceito de cultura nacional, ou seja, da nação brasileira, parte considerável dela é constituída da cultura popular, daquilo que ao longo do tempo foi gestado ou construído pelo povo, numa simbiose de conhecimentos diversos, que ao final, é impossível determinar sua autoria ou titularidade. Jamais saberemos quem inventou o cofo, a colher de pau, a rede de pescar, a lenda do sebastianismo, parte dos rituais religiosos e até mesmo as cantigas de ninar. Exatamente a isto, a cultura inglesa denominou Folclore. Que o inglês, W. Jonh Thoms, com a junção da palavra folk, povo, popular e lore, relativo à cultura e saber popularizou.
Sendo assim, o conjunto das manifestações do povo, através das lendas, mitos, provérbios, costumes e danças, que são transmitidos à posteridade, pelo contato ou pela oralidade, são em verdade, manifestações que ajudam a interpretar a história oficial e caracterizam a cultura. Podemos dizer que ela, mais que a cultura erudita, é determinante para forjar a identidade de um povo.
Como entendemos a impossibilidade da identificação dos autores, posto que isto acontecendo, já não teremos uma manifestação folclórica, e sim, uma obra tutorial, esta condição, não nos impede de contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento destas manifestações artísticas ou não. É possível através de relatos ou de registros oficiais, definir suas características ao longo do tempo e as contribuições recebidas.
Neste sentido, acessando o livro “Bumba Meu Boi Do Século XIX”, de Felipe Calil Abrão, professor universitário no estado do Piauí, me deparei com duas pérolas sobre os nossos Bumbás. A primeira delas informa que o primeiro apontamento registrado no Brasil, dando conta desta manifestação, foi feita no jornal “O Farol Maranhense”, datado de 7 de julho de 1829. O que nos leva, inevitavelmente, a considerar a possibilidade de comemorarmos os duzentos anos de nosso mimo em 2029. E eu, com ajuda do altíssimo, vou estar presente.
A segunda, não menos interessante, colhida pelo mestre, publicada, em São Luís, no “ Semanário Maranhense” 1868, informa que a matraca somente chegou à brincadeira em 1868, dando, segundo o mesmo, maior brilho e pujança a esta manifestação, que passa a ter destaque se levarmos em conta os estados onde se cultua este brinquedo. Em sendo verdade, nossos bois de matraca podem começar a comemorar os cento e sessenta e seis anos deste sotaque e os cento e setenta daqui a três anos.
Diante desta relevante informação, cabe a nossos órgãos oficiais, primeiro à Comissão Maranhense de Folclore secundada pelas secretarias de cultura do estado e do município de São Luís, promoverem estudos no sentido de validar ou não estas fontes, posto que se reveste de importância sem limites estas informações.
Por derradeiro, mas não por final, abra-se a discursão para que se organize, com o patrocínio e apoio do poder público, deste o presente momento, uma grande festividade comemorativa, do bicentenário deste, que é, sem sobra de dúvidas o mais importante representante da maior festa estadual, que é o São João. Que se dê vivas aos santos festeiros, vivas a tantos anônimos, ou não, que nos presentearam com este mimo. Viva, por fim, aos mestres, que diuturnamente nos ensinam “QUE AMOR DE BUMBA BOI É FEITO PRA NUNCA ACABAR.
Renato Dionísio – Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural.