

No último dia 10 de agosto, celebraram-se 202 anos do nascimento de Antônio Gonçalves Dias, o maior poeta do Romantismo brasileiro e um dos mais brilhantes intelectuais de seu tempo. Nascido em 1823, na fazenda Boa Vista, situada nas terras do Jatobá, então distrito de Caxias (atual município de Aldeias Altas), Gonçalves Dias ocupa um lugar de destaque entre os maiores nomes da história cultural do Brasil.
O poeta veio ao mundo em um contexto marcado pela Independência. O Maranhão havia oficializado sua adesão ao Império dias antes, em julho de 1823. Filho de João Manoel Gonçalves Dias, comerciante e fazendeiro português de Trás-os-Montes, e de Vicência Mendes Ferreira, mestiça caxiense, Gonçalves Dias cresceu entre tensões políticas e sociais que deixariam marcas em sua vida e em sua obra.
Ele mesmo recordaria, em nota autobiográfica citada por sua biógrafa Lúcia Miguel Pereira (2016): “As províncias do Norte do Brasil foram as que mais tarde aderiram à independência do Império. Caxias, então chamada Aldeias Altas, no Maranhão, foi a derradeira. A independência foi ali proclamada depois de uma luta sustentada com denodo por um bravo oficial português que ali se fizera forte. Isto teve lugar a 1.º de agosto de 1823 […]”
O pai do poeta, fiel às tropas realistas do coronel Fidié, chegou a contribuir financeiramente com a causa portuguesa, como registra o Livro de Atas do IHGC. Após a rendição de Caxias, em 31 de julho de 1823, temendo represálias e obrigado a pagar pesada multa, João Manoel refugiou-se na fazenda Boa Vista com a esposa grávida, onde, alguns dias depois, nasceria o futuro vate maranhense. Esse cenário turbulento explica porque o nascimento de Gonçalves Dias ocorreu no campo, e não na cidade de Caxias.
A morte trágica
Quarenta e um anos mais tarde, em 3 de novembro de 1864, Gonçalves Dias encerraria sua trajetória de forma trágica. Gravemente enfermo, retornava da França em busca do reencontro com o Maranhão e seus afetos. Viajando como único passageiro do antigo veleiro Ville de Boulogne, acompanhado de apenas doze tripulantes, suportava uma longa e sofrida travessia de 53 dias.
Quando o navio já se aproximava da costa maranhense, na região dos Baixios dos Atins — também conhecidos como Croas dos Ovos — próximo à então Vila de Guimarães, o infortúnio se consumou. Às quatro da manhã, a embarcação colidiu com bancos de areia e partiu-se ao meio.
No desespero da tripulação, o poeta, debilitado, quase sem voz e restrito a colheradas de água com açúcar, acabou abandonado em sua cabine, onde morreu afogado. Seu corpo jamais foi encontrado, assim como os manuscritos inéditos que trazia. Rumores, no entanto, sugerem que esses escritos teriam chegado até Alcântara.
Assim se encerrou a vida do poeta que imortalizou os versos de “Canção do Exílio” e deu à literatura brasileira uma identidade própria, profundamente marcada pela terra natal, pela memória indígena e pela busca de pertencimento.
Euges Lima – Historiador, professor, bibliófilo, palestrante e membro efetivo do IHGM__________________________________________________________________________________________________________________