“Virgem Maria, rogamos a ti / Nossa Senhora de paz e amor / a exaltação a rainha que cura a ferida e a dor”
Carlos Quirino, compositor maranhense.


Um clima de harmonia, paz e muita comunhão em mais uma edição do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Uma festa religiosa que contagia a todos e mostrou mais uma vez a capacidade que o povo paraense tem de cada vez mais proporcionar momentos de pura emoção aos fiéis que buscam na imagem de Nossa Senhora de Nazaré a força para superar as adversidades e promover a restauração da mente, corpo e espírito, assim como da vida, através do crer, do acreditar no fortalecimento para a vida.
Mais uma vez, o povo do Pará recebeu visitantes do mundo inteiro para celebrar esse que se tornou um encontro de todas as religiões em uma só comunhão, a busca pelo Espírito Santo de Deus, inspirados pela imagem de sua santa mãezinha, a Virgem Maria de Nazaré.


O Círio 2025 mostrou aos que mais uma vez foram à festa e também aos que pela primeira vez estiveram nessa celebração, como mais de 2,5 milhões de pessoas se reúnem para viver momentos de reflexão, adoração e comunhão, e assim superar as diferenças religiosas, causadas pela intolerância daqueles que não sabem discernir entre o amor e o verdadeiro sentido da vida.
Um maravilhoso momento de culto católico à mãe do Senhor Jesus Cristo, uma expressão sincera de fé, devoção e intercessão da Virgem Maria naqueles que buscam a cura para as dores, o coração e a alma, como cantada na música mais tocada durante a festa em toda Belém do Pará do compositor paraense, Almirzinho Gabriel, que reverencia a Rainha da Amazônia: “Naza, Nazarézinha, Nazaré rainha, Nazaré, mãe da terra, mãezinha que ajuda a cuidar”, o Zouk da Naza.


Belém urbanizada
E vibrante e feliz, a capital paraense, Belém recebeu de braços abertos a todos, e era possível observar no semblante dos anfitriões, o ar de satisfação e alegria, não tão-somente pela festa, mas também pelo prazer de receber os visitantes como uma cidade quase que totalmente pronta para um dos mais importantes eventos que irá acontecer de 10 a 21 de novembro, na Capital da Amazônia, a COP 30, Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) que tem como objetivo discutir questões relacionadas ao aquecimento global e às mudanças climáticas.
Belém do Pará já respira a COP 30, um respirar mais profundo de uma cidade que passou por uma transformação urbana paisagística e que até o mês de novembro estará pronta para recepcionar delegações de mais de 162 países que já confirmaram presença, e que ultrapassa o quantitativo de dois terços de delegações necessárias para as discussões internacionais acerca da sustentabilidade mundial.


A cidade ganhou novas avenidas, recuperação de vias, canteiros e esgotos, e se pode observar ao longo das ruas, praças e bairros, que Belém irá ter um legado primoroso com a realização da conferência diplomática. A população da cidade tem absorvido todo o contexto de sua realização, com todas as comunidades interagindo com os visitantes, numa receptividade perceptível.
Para o analista de suporte, o maranhense, Flávio Soares, a festa é uma congratulação de diversas particularidades:
“Círio de Nazaré não é apenas um deslocamento, é uma imersão na alma da Amazônia e na fé do povo brasileiro. É preciso se preparar para o excesso em tudo: excesso de gente, excesso de calor, excesso de cores, cheiros e sabores”, sintetizou.


Religiosidade e turismo
A Festa do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, nos transporta para aquilo que parece ser um mundo de gratidão, amor, sentimento, união, amizade e companheirismo, bem visíveis no semblante das pessoas. A atmosfera nos permite acreditar que o amor move montanhas e que ainda existem muitas possibilidades de se construir e reconstruir o mundo.
Das cidades circunvizinhas, romeiros e promesseiros ganham os acostamentos numa verdadeira procissão de devotos. É notória a força da fé e o acreditar de todos, seguindo em frente; fiéis descalços, outros carregando peças que retratam as mais diferentes crenças, mas em um só objetivo, o de perseverança e convicção.
“Foi muito emocionante ver o povo nas ruas, movido pelo espírito de amor que envolve toda a população, uma festa digna das mais importantes do mundo. O Círio de Nazaré, em Belém do Pará, nos transporta para aquilo que parece ser um mundo de gratidão, amor, sentimentos profundos”, comentou, a carioca Célia Maria.
Belém, no Norte do Brasil, é assim
No Pará, a religiosidade e o turismo caminham de mãos dadas no fortalecimento cada vez maior de suas festividades, peculiaridades atrativas que fazem do estado um forte e potente destino brasileiro.
Ao adentrar no espaço geográfico do estado paraense se percebe um conjunto de fatores e ecossistemas diferenciados, com campos verdejantes, manguezais, restingas e marés em encontro com rios que compreendem uma terra, um solo de bastante produtividade.
Assim, o Estado do Pará começa a se diferenciar de outras regiões, pela sua biodiversidade, o que lhe confere o título de Capital da Amazônia, com um conjunto de fatores primordiais necessários na preservação e valorização de seu todo seu potencial natural, cultural e histórico.


O lado profano – Chiquita e Pavulagem
O profano se mistura ao religioso. Declarado Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará, a Festa da Chiquita há 49 anos ganhou a Praça da República, nas noites de sábado durante décadas após a passagem dos peregrinos no translado da imagem na Procissão das Luzes até a Catedral da Sé, onde permanece até a manhã do domingo. A Festa da Chiquita, coordenada a partir de 1990 pelo artista Elói Iglesias, celebra a diversidade e a cultura paraense tornando-se uma festividade voltada para um público mais alternativo.
A “Chiquita” não é reconhecida pela igreja católica como parte integrante da festividade do Círio de Nazaré, porém a festa já está tombada pelo Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e pela Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, através da Lei N° 9.025, de 17 de março de 2020.
Já na manhã do sábado, uma manifestação cultural passou a fazer parte do calendário cultural no período, a Pabulagem, um arrastão cultural musical que reúne artistas percorrendo as ruas do centro de Belém seguido por milhares de brincantes entre paraenses e visitantes, numa celebração dos mais diversos ritmos marajoaras, entre, o carimbó, guitarrada, marujada, que hoje já se tornou tradição, sendo reconhecida como manifestação da Cultura Nacional.
A receptividade se aflora, os visitantes se encantam, as religiões se entrelaçam e a cidade respira religiosidade e turismo, e assim Belém segue festeira no Círio, lotando logradouros, cantos, recantos e pontos turísticos.
Não existe espaço para a discriminação, para a soberba, é o sentimento de fraternidade fluindo entre as pessoas é o Círio de Nazaré provando a todos os presentes que o mundo fica melhor quando se quer, e todos ali parecem querer.
O Ponto Máximo
O domingo do Círio é marcado pela maior concentração de fiéis, o dia já amanhece com milhares de pessoas percorrendo as ruas logo nos primeiros raios do sol. Numa procissão de 3,6 quilômetros, da Catedral até a Praça Santuário de Nazaré, nas avenidas Presidente Vargas e Nossa Senhora de Nazaré, o que se vê são as mais fortes manifestações de fé que se possa imaginar. São pessoas percorrendo trechos ajoelhadas, velas de todos os formatos e réplicas das mais diversas peças religiosas, em meio às lágrimas e emoção que toma conta da cidade, tomada pela felicidade, súplica, emoção, devoção e fé.
Uma festa que chama atenção para a religiosidade de povo brasileiro e o crescimento do turismo religioso que a cada ano se consolida com forte tendência para a atividade turística nacional, movimentando cerca de R$ 15 bilhões por ano e atraindo aproximadamente 17,7 milhões de turistas nas mais diferentes regiões. Um crescimento impulsionado por eventos nacionais históricos como o Círio de Nazaré e o Dia de Nossa Senhora de Aparecida, Padroeira do Brasil. Uma atividade com 3% da movimentação econômica do turismo nacional, totalizando aproximadamente R$ 492 bilhões, promovendo impactos crescentes no comércio, hotelaria, transporte e setor de alimentação.
Texto: Gutemberg Bogéa
O jornalista Gutemberg Bogéa viajou a Belém do Pará através da Agência de Viagens Aloha.
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Bela matéria sobre o Círio de Nazaré. Completa e bem ilustrada.
Muito obrigado, Mara.