Na semana passada ocupei o nobre espaço deste jornal para falar de etarismo, que chamei de “Velhofobia”. O título do artigo foi “Velho é um jovem que deu certo”. Falei do imbróglio envolvendo três mentecaptas que chamaram uma colega de faculdade, de 44 anos de velha.
Recebi mensagens sobre o tema, a maioria de pessoas com mais de 60 anos.
Algumas falando que após encerrarem um ciclo começaram outros. Estão estudando, fazendo dança de salão, escrevendo livro, cursando nova faculdade, casando, fazendo trabalhos sociais, enfim, estão ativas e produtivas.
Ninguém mais quer ser taxado de aposentado. A definição mais interessante que ouvi sobre aposentado, foi em Barcelona, de uma amiga portuguesa, que elegeu aquela fascinante e surpreendente cidade para viver. Maria, 67 anos, natural do Porto, após divorciar-se, sem filhos, resolveu tentar a sorte em terras espanhola. Morou primeiro na capital, Madri, depois fixou residência à beira mar, na ensolarada Barcelona. Em um bar, nas Rambras, Maria me contou que aposentado é aquele que voltou para seus aposentos, deixou a sala da casa, ou seja, não era mais ouvido, recolhera-se ao quarto de dormir. Maria, &ea cute; um exemplo de reinvenção: arranjou um emprego e um namorado na Espanha, estava resignificando sua vida. Feliz com suas escolhas. Aprendi com Maria, nunca permito que me chamem de “aposentado”. Sou Engenheiro Agrônomo, Palestrante, escritor, estudante de jornalismo, viajante, menos “aposentado”.
Em um voo Guarulhos-Paris, sentou-se próximo do meu acento, duas mulheres capixabas. Tia e sobrinha. A sobrinha, na faixa dos 40 anos, conheceu em um aplicativo de relacionamento, um paulista que morava em Toulon. A tia, com mais de 60 anos, foi de acompanhante, queria conhecer a França, um desejo antigo.
No desembarque no aeroporto Charles de Gaulle, fui apresentado ao futuro namorado da jovem. Fiquei em Paris, o trio seguiu para Toulon. Tempos depois soube que o rapaz paulista havia se interessado pela tia, e que voltaria ao Brasil para desposa-la. Invertendo a ordem natural das coisas, o homem se interessou pela mais velha, a ponto de se casar com ela.
Os tempos mudaram, e em muitos casos, para melhor. Hoje existe um termo para designar as pessoas sem idade ou repletas de idades, são as “ageless”. São pessoas que estão no auge da vida, produzindo, acontecendo, e o melhor, fazendo acontecer.
Envelhecer hoje em dia é muito diferente do que era envelhecer há 15, 20 anos. Isso porque, além de terem um estilo de vida e atitude muito mais saudáveis do que as gerações passadas, essas novas pessoas não se definem pela idade.
Diferentemente de antigamente, essas pessoas valorizam mais o propósito do que a estabilidade de qualquer vínculo e, por isso, se recusam a ficar presas a empregos convencionais ou a relacionamentos em que não se sentem felizes. Medo de mudança não faz parte da rotina dessas pessoas. Sem se definirem por quantas primaveras passaram, elas são consideradas “ageless”, termo em inglês que significa, “sem idade”.
Os novos tempos trouxeram novos conceitos, e muitas pessoas, no mundo todo, querem ressignificar suas existências. Não querem apenas sobreviver, mas viver intensamente o tempo de vida que lhes resta. Isso só se aprende com o passar dos anos. Quando jovens, por terem mais tempo pela frente, a maioria não tem a preocupação em viver da melhor forma.
Confúcio já dizia “Qual seria sua idade se você não soubesse quantos anos você tem? Idade é apenas mais um número, entre tantos que lidar diariamente. Afinal, depois de ter que decorar número de RG, CPF, CEP, celular, agência, conta, celular, aniversário de filho e familiares, ainda termos que nos preocupar com o número da certidão de nascimento já é demais, não é não?!
Enquanto estiver por aqui, temos que ter propósitos e projetos de vida, isso nos revigora todos os dias.
Velho é o mundo, quando por aqui chegamos ele já existia, vamos embora e ele fica. Portanto, a melhor idade é estar vivo e com saúde.
Felicidades, feliz idade para todos nós.
Luiz Tadeu Nunes e Silva – Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.