“Contrário”, no dicionário do Bumba-meu-boi do Maranhão, é outro cordão do mesmo sotaque ou não, cujo cantador mandou na roda uma toada de crítica, chamada de pique, ao adversário, e assim sujeito a receber uma resposta apimentada, conhecida por toada de repique. “Contrário”, por assim dizer, foi o procedimento da TV Globo, no Jornal Hoje, edição de anteontem, enquanto no Quadro São João do Nordeste concentrou-se mais em elogiar e por mais tempo os de Campina Grande (PB) e o de Caruaru (PE), que fariam “o maior São João do Mundo”, enquanto no de São Luís (MA), quando falou, limitou-se ao bumba-boi, e com um erro cavalar, pois citou São Marçal, Padroeiro dos Bois, pois, na verdade, é São João e também dos devotados brincantes.

Em vista de que naqueles há mais grupos de quadrilhas e forró, seria oportuno que o Governo do Estado, via Secma (Secretaria de Estado da Cultura), numa publicidade institucional, em reforço à primeira, ou numa reportagem especial, na TV Globo, apontasse que é o São João o verdadeiro Patrono dos Bumba-bois do Maranhão, e que ostentamos o maior, melhor, mais colorido e bonito São João do Brasil, ou seja, do Mundo. Aliás, quando abriu a temporada joanina, numa entrevista coletiva, no Palácio dos Leões, foi assim que se manifestou, muito entusiasmado, o governador Carlos Brandão: “Campina Grande que se cuide!”


Se levarmos em conta que a peça São João do Maranhão, o Maior do Brasil, da Secma, em nível nacional, foi comprometida em sua grandeza pela trilha sonora “Acorda Pedrinho”, do compositor Jovem Dionísio, sem nada a ver com o peixe do bumba-boi, essa providência, se prosperasse, viria a calhar. Possuímos, realmente, a maior diversidade de brincadeiras do período e cada uma com seus atrativos.


O brinquedo Bonito de se ver – Sem dúvida, no Maranhão, o Bumba-meu-boi é a principal atração dos festejos juninos. Os conjuntos de Boi do Maranhão são divididos em sotaques (estilos, formas e expressões). Entre os sotaques, estão: de Matraca, de Zabumba, da Baixada, de Costa-de-Mão e de Orquestra. Boi da Ilha ou Sotaque de Matraca: Em São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Icatu, tem como principais instrumentos a matraca, dois pedaços de madeira, e os pandeiros rústicos, e o tambor-onça, num ritmo frenético e contagiante. Exibe roupas de fita (rajados), índias, e seus espetaculosos caboclos de pena dão sua origem como do grupo indígena. Sotaque de Zabumba ou de Guimarães: É marcado pela presença da percussão rústica e cadenciada; usam roupas aveludadas, saias bordadas e chapéus com fitas; sua origem foi na região de Guimarães e arredores, e desde os anos 20, do século passado, pontificam, igualmente, em São Luís. Sotaque da Baixada: Tem o som mais leve e suave, com pandeiros e matracas, do que os Bois da Ilha. As roupas vêm com penas e bordados em base de veludo e chapéus de fitas. Os Cazumbas, bicho e homem, são personagens característicos desse sotaque. Sotaque Costa de Mão: Tem origem na região de Cururupu, com um ritmo cadenciado ao som de pandeiros tocados com as costas da mão, caixas e maracás. As roupas também têm bordados em calças e casacos e seus chapéus em cogumelo funil são adornados com flores. Sotaque de Orquestra: É o mais novo dos estilos (do meado da década de 1950), com origem na região de Munim. Utiliza instrumentos de sopro e corda. Os participantes usam trajes de veludo com bordados e miçangas e com índias cada vez mais estilizadas. São de Rosário (originalmente), Axixá, Presidente Juscelino, Primeira Cruz, Humberto de Campos, Icatu, Morros, Nina Rodrigues, etc.






A variedade de brincadeiras – Além de quadrilhas e grupos de forró pé de serra, há no folguedo: Tambor de crioula, dança do coco, cacuirá, dança portuguesa, do boiadeiro, etc. Grupos parafolçlóricos expressivos: Boizinho Barrica, Boi Pirilampo, etc.


Comidas de festa junina – Algumas comidas típicas nordestinas são mais comuns no Maranhão, em época de festa junina. As principais são o vatapá, a cocada, pamonha, canjica, e a torta de camarão, arroz de cuxá com peixe frito, que dispensam apresentações. De diferente, e não menos saboroso, há o mingau de milho e de tapioca, preparado com coco, leite condensado e canela, etc.


A Lenda do Acorda, João! – Existe uma lenda que diz que os fogos de artifício soltados no dia 24 de junho são “para acordar São João”. A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia, pois, se ficasse acordado, vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem, na celebração do seu aniversário natalício, não resistiria e desceria à Terra.


O desabafo de um folclorista devotado – Este é mais um trabalho que cometo em benefício da Cultura Popular Maranhense. Espero que ele obtenha eco entre as autoridades competentes, com o objetivo de resolverem a parada, em prol da população. Agora, é para batermos no peito, com orgulho incontido, e dizermos a uma só voz: “Temos, sim, aqui, o Maior São João do Brasil e do Mundo!”
Texto: Herbert de Jesus Santos
EXCELENTE A REPORTAGEM PARA O BRASIL CONHECER O MAIOR SÃO JOÃO DO BRASIL