Quem me conhece mais de perto, sabe que uma das minhas praias, em se tratando das nossas grandezas da Cultura, a Festa de São Pedro, na Madre de Deus, tem uma ascensão para lá de especial, pela lembrança que ela me traz da Minha Avó paterna Marcelina Cirila dos Santos (Marcela), zeladora da primeira capela, analfabeta de quatro costados, e com uma comunicação irrepreensível, na resolução de pendência sobre o Dia Maior do Pedro Santo. Fosse na Capitania dos Portos (para falar, pessoalmente, com o comandante, sobre as embarcações que participariam da procissão marítima e a fiscalização por conta da marujada), no então 24.º BC, para a concessão, pelo Cel. do Exército, da banda musical, para animar a novena (nove noites de reza), no largo festivo, ou com o comandante da briosa PM, com aquele mesmo fim, no cortejo terrestre, e a pela Baía de São Marcos, de manhã ou de tarde de 29 de junho, de acordo com a maré.
Verdade que ela sempre conduzia ofícios datilografados pelas alunas da Escola Normal, residentes na nossa vizinhança, e eu, lá alguma vez a acompanhando de calca curta, não sabia até que ponto ela falava o certo por linhas tortas, além de que, de cada falação dela, um feito exitoso para o Pedro Santo, que não sofria solução de continuidade. Se tive alguma mordomia na vida, foi beber, no amanhecer de São Pedro, mais cedo do que todo mundo, do seu delicioso mingau (de milho e de tapioca), com que ela, diariamente, ajudava no passadio da nossa casa, ao lado do templo do santo da nossa devoção, e, num banco da igrejinha, um lugar privilegiado para assistir aos bumba-bois. Ela foi majestosa, quando falou, comigo ao lado, para a Minha Madrinha (Dedé) cuidar de mim, na Rua do Apicum, pois ela não podia mais lidar eu gazeando aulas, nas primeiras letras, tomando banho de maré, e tinha dado até uma pedrada no Padre Martinho, que me queria no catecismo, e Papai, na pescaria em alto-mar, e Mamãe, na tecelagem da Fábrica Santa Isabel (Fabril ). Meu Padrinho (Chiquito), Oficial de Justiça, quando chegou do TJ para almoçar, eu já recebia abraços dos meus irmãos de criação; o “Deixe Betinho comigo, D. Marcela, que eu quero ver se ele não estuda”! foi cumprido, na Escola-Modelo Benedito Leite, na minha aprovação ao acirrado Exame de Admissão ao Liceu, nos Vestibulares da UFMA ao Curso de Direito e ao de Comunicação (Jornalismo), e diversos prêmios literários. Minha Primeira Comunhão, na Igreja de São João, via Escola-Modelo. Numa Festa de São Pedro, eu já desasnado, pediu para eu ler sobre o evento, no O Imparcial e no Jornal Pequeno, na capela, perto da imagem do taumaturgo, quando me almejou jornalista, profissão com que me vali para auxiliar muito o Pedro Santo, além de um verso inesquecível: Eu fiz escola por ela/e lia o jornal pra nós três, no livro São Luís em PreAmar, com que fui considerado, pelo jornalista e compositor Cesar Teixeira, um dos maiores poetas maranhenses.
Pois bem, sei como e posso, proximamente, melhorar muito a Festa de São Pedro, viabilizando o Largo para ser o maior e mais frequentado de São Luís, e não só em 28 e 29 de junho, subsidiando o Turismo, a procissão marítima a maior do Brasil, com uma baía superior à de Guajará, em Belém(PA), com centenas de embarcações, no Círio Fluvial de Nazaré. No mesmo passo, trazer os pescadores para a Comissão Organizadora da Festança do Padroeiro deles, meus amigos de infância esquecidos pelas últimas Coordenações da Capela! Devagar com o andor de São Pedro, qual Minha Avó dizia aos devotados carregadores, seria, em outras palavras, mais ou menos tudo isso!
São Pedro com minha avó Marcela
Minha Avó tirava de letra, pois, mesmo analfabeta, em magia, para acordar o dia mais cedo, era Marcela, e, também, Luzia, em acender alegria e estrelas aos companheiros e aos filhos pescadores, com sua venda de mingau de todo o dia, antes de brilhar São Pedro e seus andores. Na Festa do Glorioso São Pedro, num tempo que ainda não foi, sabia de cor e salteado o segredo, no largo enfeitado pro Boi, qual zabumba que vinha distante: de Mizico, Medonho, ou Lorentino, dos quais, eu guardava o brilhante, caído do Boi e do brincante, para eu preservar seu destino, numa caixa de papel coração, que cresceu mais que o menino e reluz no céu do seu chão. Minha Avó tinha cada ideia! Queria que eu fosse alguém na vida que é plateia e louva mais os que têm! Vovó cresceu minha infância em seu brilho de todo dia. Ser rico de luz, sua ânsia, com ouro de tolo, não via. Estou sujando a capela, São Pedro é a bola da vez: eu fiz escola por ela e lia o jornal pra nós três. Estou sujando a capela, São Pedro não estudava; a zeladora era ela, de mim e do santo cuidava. E disso eu fazia praça, satirizando o enredo e me lavava na graça, botando a culpa em São Pedro. Cara de santo eu fazia, mas Vovó conhecia cara de tambor que amanhecia, santo de casa e de arara:
— Nem “mais” nem meio “mais”, santo não tem “dô” de dente! Naquilo em que eu era capaz, faltava ao santo ser gente. Passa o tempo, marco passo, com a fronte erguida, porém, pois não corrompo o compasso da reta que a linha tem. Na lida, publico agora que deixam a justiça ao léu, e Vovó me crer nesta hora e bota ordem no céu.
Tem espaço para arrumar, no Alto, celeste ermida. Porque tem São Pedro, lá, e aqui, minha luta renhida, ralha, ali, com o Santo do Pedro, e com os meus santos, cá, contudo, nos sendo querida, entendendo-se a benquerença que há em: “Que santos putos da vida!” Chegou sem pedir licença, não era a preta Irene do poeta maior pernambucano Manuel Bandeira, nem tratou “sua incelença”, “meu branco” nem abriu porteira. Era só para varrer o céu e para cuidá-lo tão cedo: ela, na Madre de Deus, já era assim com São Pedro!