Os dois terreiros de matriz africana do Maranhão (Casa das Minas e Casa de Nagô), estabelecidos desde o meado do século19, em São Luís, prosseguiram a tradição de tempo imemorial, o primeiro com a queimação de palhinha do seu presépio, na noite de 19 de janeiro último, com ladainha e mesa de doces e refrigerantes, e o segundo, louvando São Sebastião, no seu dia (20 de janeiro), com reza ao meio-dia, distribuição de almoço, às 13 horas, e de bolo e refrigerantes aos participantes, às 15. Ao contrário de outros locais que armam o presépio natalino e realizam a queimação de palhinha (folhas de murta) no dia consagrado aos Santos Reis (6 de janeiro), a Casa das Minas (Querebentã de Zomadônu) guarda a data com missa de manhã, almoço ao meio-dia, e repartição de doces e refrigerantes, e a Casa de Nagô (Terreiro de Xangô) realiza o ritual do fogaréu da lapinha do presépio no dia 2 de fevereiro, em homenagem à Iemanjá, mãe de Xangô, sempre contando com a Associação dos Amigos da Casa de Nagô, na direção dos entusiastas Airton Ferreira e Beto Lima.


Reis e a Estrela de Belém — A festa, em São Luís, apresenta a exuberância da indumentária dos personagens, assim como a decoração e forma de apresentação. São reis, rainhas, vassalos, pastorinhas e anjos que saem em cortejo para visitar as residências com presépios do Menino Jesus, como fizeram os Três Reis Magos seguindo a Estrela de Belém. Ocorrem agora só no interior da Ilha: em três grupos no Maracanã, um em Tajaçoaba e outro no Porto Grande, todos com características bem próximas na utilização da coreografia de cordão e toque de instrumentos de sopro.


A decadência dos Reis — Consoante a jornalista, pesquisadora, professora, mestra e doutora do Curso de Comunicação Social da UFMA, Esther Marques, ex-secretária da Cultura do Estado, o auge dessa brincadeira, em São Luís, no século 20, aconteceu entre as décadas de 1950 e 1960, quando suas exibições eram disputadas pelas famílias. Ela assinalou que, ao longo dos anos, a festa foi perdendo força em virtude da concorrência de outras formas de entretenimento, além da falta de incentivo financeiro e estrutural para a manutenção da tradição.
A possibilidade do resgate — Esther Marques evidenciou, em relação às manifestações culturais presentes nos períodos junino e natalino, que elas são movidas pelos investimentos. Ela também relatou que falta interesse do poder público para produzir uma política voltada para este folguedo. “Ainda dá para se fazer um resgate, mas é preciso uma política pública para isso, discussões, organização desses grupos, recursos para eles e recuperação da história, e reestruturação daquilo que for possível”, enfatizou.


Falando de cadeira — Esther Marques fala de cátedra, pois foi vaqueira campeadora do Boi de Morros (de orquestra) e é autora de um livro importante para a alma do povo maranhense, em 1999, Mídia e Experiência Estética na Cultura Popular: o Caso do Bumba-Meu-Boi no Maranhão, e realçou que “Diferente de outras tradições de Natal, os cordões de reis mantêm as mesmas (ou quase as mesmas) características originais das manifestações!”
Texto: Herbert de Jesus Santos